domingo, 19 de setembro de 2010

Projeto Formiguinha - fazendo a diferença

Conheci Cléo Penha de uma forma curiosa: durante uma viagem de ônibus. Ao pegar o T3 enquanto voltava para casa, acabei sentando ao lado dela. Não demorou muito para que ela me abordasse e perguntasse se eu poderia dar-lhe um instante de atenção.

Nossa conversa durou até o momento em que ela desceu do ônibus. Falei-lhe do blog e de que eu poderia ajudá-la a divulgar a idéia. Ela anotou seu email num pedaço qualquer de papel e passamos a manter contato. Transcrevo abaixo a entrevista que fiz com ela via email:

Neurônio Frito - Quando e como foi que você se interessou pelo câncer de mamas?

Cléo Penha - Pelo câncer de mamas propriamente dito, não me interessei jamais, por preconceito provavelmente (não tenho, não tive e acredito que nunca terei um), não pensei jamais em trabalhar defendendo essa causa. Mas, após fazer o curso para voluntárias do SESC, fomos visitar algumas instituições parceiras do SESC, para concluir o curso e receber o certificado. Após visitar várias instituições, como creches e asilos, chegamos ao IMAMA onde fomos recepcionadas com uma palestra explicativa não sobre o câncer de mamas, mas sobre a prevenção. Sobre a importância da prevenção para a erradicação da doença. Sobre o índice de mortalidade, pela falta de conhecimento e pelo índice de cura pelo conhecimento precoce. No mesmo dia, estava presente a Zero Hora, fazendo uma cobertura para o caderno Saúde. Fui convidada para fazer parte da foto que sairia no caderno de sábado. Senti-me inserida no contexto com uma grande alegria interior. Abracei a causa da Cura.

NF - Como surgiu a idéia de abordar as pessoas dentro de um ônibus?

Cléo - Na verdade, não sei. De repente, vi uma oportunidade singular de divulgar para pessoas desconhecidas com as quais temos a oportunidade de um contato físico bem próximo por alguns minutos, entre uma parada e outra. Na maioria das vezes perdemos essa oportunidade pelo nosso "ostrismo". Eu chamo esse processo de "humanização volante”. Hehehe. Até os cachorros se saúdam quando se encontram na rua!

NF - De modo geral, como as pessoas reagem?

Cléo - Surpresas! De cara feia! Com olhar desconfiado quando ofereço um pequeno presente: uma amostra de batom da Avon. A Avon é parceira nesse projeto e estou buscando outros parceiros aqui em Porto Alegre. Uso alguns artifícios na abordagem: a auto-estima representada pelo batom, a fé representada por um santinho e a saúde, através da bulinha do IMAMA que traz informações valiosíssimas para quem quer praticar a prevenção.
Passada a surpresa inicial, para não me tornar muito invasiva, rapidamente dou o recado: autoexame, alimentação sadia, visita ao ginecologista e a mamografia. No caso da mamografia, enfatizo a Lei Federal 11.664 que dá direito a todas as mulheres com mais de 40 anos fazê-la gratuitamente.
No final é só sorrisos e agradecimentos.

NF - Quantas pessoas, em média, você atinge diariamente com esse trabalho?

Cléo - Não sei exatamente. Não pego ônibus todos os dias, mas quando pego, pelo menos duas pessoas por itinerário sentam ao meu lado, e nunca perco a oportunidade. Mas também tenho aproveitado a sala de espera de consultórios quando vou fazer consultas de rotina. Hoje, por exemplo, estive no hospital Santa Rita acompanhando uma amiga em cirurgia. Aproveitei o longo tempo de espera para distribuir as bulinhas e divulgar para as 9 pessoas que estavam lá. Foi ótimo, todos se interessaram em me ouvir. Em menos de um mês de prática distribui 56 bulinhas do IMAMA. Inclusive batizei-o como "formiguinha" por lembrar exatamente a persistência.

NF – Você tem alguma espécie de ligação com o Imama?

Cléo - Sou uma voluntária como qualquer outra, mas, a meu ver, com um pequeno diferencial: paixão.

NF – Você acredita que esse seu trabalho de "formiguinha" gere algum resultado concreto?

Cléo - Sim, creio nisso. Se eu atingir em cheio uma mulher que seja, ou seu companheiro, teremos uma vida salva.  O assunto será lembrado cada vez que ela usar o espelho para pintar a boca, por exemplo. Pode ser que o consciente coletivo seja acionado. Teremos talvez mais uma multiplicadora da causa. E assim por diante...