domingo, 28 de agosto de 2011

Dust in the wind


Às 03:55 da madrugada o vento chega.

Traz sons diferentes aos meus ouvidos cansados de tanta gente idiota falando.

Traz tremores às estruturas que me cercam, como quem avisa: ninguém está seguro, em nenhum momento, em nenhum lugar.

É um vento que assovia, que quase consegue cantar. E que deixa todos os gatos atentos, enquanto os cães se escondem, apavorados.

Traz a poeira de outros lugares, com outros cheiros, com outras tonalidades, diferentes do cinza-fuligem que me cerca.

E nessa poeira misturo-me, enquanto um relâmpago tenta mostrar-me o caminho. Mal sabe ele que conheço todos os caminhos. E que nem o vento mais forte me arranca de mim.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O vestido azul


Conto escrito na noite de ontem, logo após uma conversa "inspiradora" no MSN.

“Eu nunca voltaria no tempo", ela me disse, sem me olhar direto nos olhos. Fiquei olhando para seus braços enquanto os pelos se erguiam, cada vez mais. Ela estava a uma distância segura de mim, como se não quisesse ser tocada.
“Me arrepia pensar nisso”, completou. Mostrou-me os braços e já não eram os mesmos que me abraçaram um dia. Estavam flácidos e ela havia engordado. Pensei, sem dizer, que tínhamos envelhecido depressa demais. Aos 30 anos parecíamos ainda tão jovens!
Desviei o olhar e falei que eu voltaria para muitos momentos, se possível fosse. Tive muitos momentos bons em minha vida e não hesitaria em visitar cada um deles, ao menos uma vez. A ideia de voltar também me arrepia, mas de prazer. Não tenho nenhum medo do que passei, do que senti. Sentiria tudo de novo.
“Sorte tua”, ela disse. E olhou para o céu. Uma mania dela, olhar para o céu, como quem procura algo que não sabe onde está e nem sabe o que é.
Pensei tanta coisa interessante para falar, mas quase nada do que penso a interessa, então calei.
“Ainda tenho o vestido azul”, ela disse, provocante, depois de alguns minutos.
Ah, o vestido azul! Imediatamente lembrei da aula. Ela chegou e foi sentar lá na frente. Éramos mais de vinte homens olhando para aquelas costas lindas, com aquele decote exagerado. E de repente ela se vira e olha diretamente para mim. E sorriu um sorriso que me derrubou de mim mesmo por uns dez segundos.
“Teríamos conseguido? Se eu tivesse ficado, teria dado certo?” Dessa vez foi sua voz que me derrubou. “Eu era meio estranha e você muito antipático!”  Pensei imediatamente que a minha sinceridade faz as pessoas me acharem antipático. Todos reclamam da mentira, mas ninguém quer conviver com quem fala a verdade.
Sem pensar, falei que voltaria mil vezes para aquele dia, depois daquela aula. Ela encostada no poste, nossos corpos muito próximos, minha mão tocando-a de forma ousada, procurando seu sexo e ela preocupada que alguém fosse ver, atentado ao pudor, perturbação da ordem pública, alô, é da polícia? Tem um casal fazendo sexo na minha calçada! E a sirene, o medo, a vergonha... o que iam dizer? Mas quem ia dizer, afinal? “Teu medo nos separou para sempre”, falei em voz alta.
“Por favor, não diga isso”, reclamou. Mas eu tinha que falar. E falei.
Eu voltaria mil vezes para aquele momento e também para a primeira vez em que te vi. Eu tentando te ensinar como chegar nem lembro mais aonde e você me olhando, sem falar, e sorrindo, apenas sorrindo. E eu falando sem parar, quase me engasgando com o sanduíche, te mostrando a cidade inteira no mapa, porque sabia que quando eu parasse de falar você diria, ok, obrigada, e iria embora. Como foi. Você sempre foi. E eu sempre achei – sempre esperei – um dia ela volta, um dia ela vem e fica. Mas você nunca voltou, você nunca ficou, a não ser lá no passado, grudada naqueles dois momentos, dois momentos únicos que poderiam ter sido uma vida inteira, mas não foram.
“Não fala mais, deixa assim, não faz assim."
Eu tenho que falar, porque pode ser a última vez, a última chance.
“Se eu tivesse ido e ficado, a gente teria brigado e eu já estaria de volta. Seria muito triste”.
Triste é nunca ter tentado!  E apenas porque você achava que sabia do futuro. Você é medrosa e isso é um abismo entre nós. Eu não tenho medo de nada e você tem medo de tudo que não conhece. Naquele dia, quando acabou o curso e fui contigo até a rodoviária, era o momento exato de mudar tudo. Era a chance de ter sido outra vida, menos banal, menos com medo, sem medo de ser, fosse o que fosse. Esse erro que muita gente comete... Você era fraca e se fingia de forte. Mostrava uma força que não tinha. Porque se vê a força de alguém nas decisões que toma, não nos acertos ou erros que comete. Acertar alguns acertam. Errar muitos erram. Mas decidir, todos têm que decidir o tempo todo. E decidir pelo mais fácil, pelo mais cômodo é a maior covardia. E você não decidiu por mim. Eu era o difícil, o desafio, o desconhecido, eu sei, mas meus olhos te revelavam tudo que precisava saber de mim. E eu nunca deixei ninguém na mão...
Mas agora somos dois "velhos". O vestido azul não te cabe mais. E você não cabe mais em meus olhos. E isso é muito triste, eu sei, pode chorar. Eu também vou chorar senão parar de falar.
Eu voltaria para esses dois momentos, muitas vezes, mas o resto de você eu apagaria de minha mente, se isso fosse possível...
“Estou me sentindo mal, falamos uma outra hora, me desculpa”.

E lá se foi ela mais uma vez, talvez a última.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A primeira vez assusta!


Passavam alguns minutos das três da madrugada quando fui me ajeitar para dormir, depois de passar horas jogando conversa fora na internet. Ao passar pelo monitor das câmeras de vigilância, de relance algo me chamou a atenção. Levei alguns segundos para entender. A câmera do meu andar estava deslocada!!! Nunca tinha acontecido e confesso que na hora me passou um frio pela espinha.

Totalmente ansioso, comecei a assistir aos vídeos para descobrir em que momento acontecera. Fui retrocedendo até as 22 horas de ontem. E lá estava o sujeito. A princípio ele não percebeu a câmera e olhou diretamente pra ela. Como estava tudo escuro a imagem é fantasmagórica, pois foi gravada com luz infravermelha. Logo que percebeu, escondeu o rosto e se deslocou para fora do ângulo de visão. Um minuto depois, deslocou o ângulo da câmera.

Resultado: passei das 3 às 7 assistindo aos vídeos de segurança, tentando entender como e em que momento ele entrou no prédio. Às 7 horas desci para verificar sinais de arrombamento e nada encontrei. Mas isso é assunto para a polícia, mais tarde.

Quando me dei conta, o dia amanhecia. Fiz esta foto, através da janela suja (anotar na agenda: lavar o vidro).



sábado, 13 de agosto de 2011

Acabou, de novo


Pode o mesmo evento acabar duas vezes?

Eu achava que não, mas aconteceu comigo.

Dia 05 de agosto, depois de meses de muita lenga-lenga, acabamos nosso relacionamento de seis anos, eu e Sarah. Foi o primeiro fim.

Hoje, 13 de agosto, ela fez a mudança (morava no apartamento ao lado do meu). Acabou, de novo.

Não sei o que mexe mais, um coração vazio ou a visão do apartamento vazio onde durante todos esses anos, habitava o cheiro dela, mesmo quando não estava.

Justo eu, um roqueiro inveterado, hoje estou mais para Bethânia:

"Acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída..."

Eu chego dando voadora


No último mês, encontrei a frase no MSN mais de uma vez, comentei-a ao menos em 3 conversas e ontem encontrei-a no Facebook.

"Amigo verdadeiro não é aquele que vem apartar a briga, e sim aquele que chega dando voadora."

Pois então, desde que me conheço por gente, eu sou assim. Quando eu tinha 9 anos, meu irmão mais velho tinha 18 e estava "servindo (eca) à pátria". Uma tarde, quando ele voltava do quartel, uns caras da vila começaram a tirar onda por causa do uniforme. Virou briga. Naquele mesmo dia eu acabara de podar um cinamomo a mando de minha mãe. Passei a mão num galho, o maior que eu podia carregar, saí correndo pro meio da peleia e mandei ver no lombo dos "meliantes". A cena ficou, no final, engraçada. Todos acabaram rindo, menos eu, que não entendi a sutileza da cena, já que não podia me ver de fora. Fiquei com fama de valente, por certo.

Agora, estou para fazer 50 anos e não consigo contabilizar quantas vezes na vida eu repeti essa cena, figurada ou literalmente.

Eu tomo as dores, eu compro as brigas, eu carrego as malas (ops), eu sigo mesmo depois de exausto e ainda carrego a criatura nas costas.

E sempre, sempre chego dando voadora.

E daí? Daí que, como eu disse ontem para o Jonnathan no Facebook, vira e mexe eu fico brigando sozinho.

O Ernesto, músico que conheci em São Paulo em 1982 (ou 83) deve ter razão. Uma certa manhã de sábado, em que fui literalmente acordá-lo para fazer a panfletagem de um show, coisa que era 100% de interesse dele, ele me disse: "Wladimir, você deixa as pessoas te usarem. Elas percebem que você é assim e se aproveitam. Você faz papel de idiota".

Como na época eu realmente era um idiota de 21, 22 anos, fiquei puto da vida com ele e sumi, perdendo, ao que parece, um ótimo amigo.

Eu não tenho a menor ideia de por onde o Ernesto anda ou o que faz da vida atualmente, mas, depois de 30 anos eu queria poder encontrá-lo e dizer: Ernesto, tu tinha razão. Eu sou mesmo um idiota.

A única diferença de 1982 para 2011, é que hoje sou um idiota de 50 anos. Não é, Sarah?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vá entender esse povo!


Acabei de ler no Terra que a popularidade da Dilma baixou depois da "crise nos Transportes".

Eu não consigo entender, por mais que me esforce. Com a faxina feita no ministério não era para a popularidade dela subir astronomicamente??? Ou estão manipulando informações?

Mas, esperem, na real estou me fazendo. Eu sei por experiência própria: quanto mais eu faço o certo, menos gostam de mim ou me valorizam. É a tal da inversão de valores.

Quanto mais canalha o sujeito, mais adorado e respeitado por todos. Que merda!

Aliás, quando leio certas coisas, mais me convenço de que agi corretamente em abandonar a faculdade de jornalismo. Crise seria de fato se as denúncias não fossem levadas em conta e ninguém tivesse sido exonerado. Isso é crise! Quando a corrupção vem à tona e se age rapidamente como Dilma agiu, isso é fazer o correto, não tem nada de "crise".

Tão de brincadeira, né? Só pode ser. Porque se não é brincadeira é má fé.

sábado, 6 de agosto de 2011

Como um câncer


Acabou. Depois de seis anos, encerrar uma relação, não é fácil.

Mas pior do que ter acabado, é o fato de ter acabado aos poucos, durante meses.

Acabar assim é como morrer de câncer.

Mas, a vida segue, certo? E a dor ali, grudada como um carrapato...