Mais uma vez, estou parado em frente à estação de trem. Já não tenho mais coragem de olhar para o trem que se aproxima. Faz muito tempo que venho aqui, sempre na hora em que ele chega, como hoje. Chego a sentir uma leve brisa tocando meu rosto, enquanto se aproxima, exatamente antes que ele pare. E essa brisa me joga de volta ao passado, para um tempo em que você estava aqui. Você e seu toque macio em meu rosto. Um tempo em que eu costumava ser alguém que você amava.
O barulho do trem machucando os trilhos, misturado ao barulho do freio, me traz de volta, enquanto me tapa a visão da plataforma. Meu coração, desconectado de minha mente, acelera. Através das vidraças do vagão, vejo alguns vultos se movendo. Mas ninguém desembarca nesse pequeno canto do mundo. De novo, você não veio. Meus olhos já não conseguem chorar, apenas morreram, como quase tudo em mim.
Mal consigo notar o trem indo embora, minha mente perdida em um sentimento que não consigo mais transformar em pensamento. Meus olhos só conseguem ver a estação vazia, mas não tão vazia quanto meu pobre coração. Meu pobre coração cansado de te amar.
E assim, do nada, este pequeno vilarejo é tomado de um vazio imenso. Um vazio do tamanho do mundo. Sem perceber, meu corpo volta a mover-se, deixando para trás a pequena estação. Pequena e vazia. Até amanhã, mais uma vez.