domingo, 26 de dezembro de 2010

Máscaras

Acabou. Passou. Já era. Pode tirar a máscara. Ninguém mais está olhando. Imagino que tenha sido cansativo. Um dia inteiro abraçando, sorrindo, repetindo a mesma frase como um mantra.

Lembrou daquela criancinha que não tem o que comer o ano inteiro mas estava "ansiosa" pelo teu presente de segunda mão? Por falar em lembrar, lavou bem as mãos ao chegar em casa? Vai saber quanta doença pode ter essa gente pobre. São sujos, não é mesmo? E cheiram mal. Por que será que não compram um bom sabonete da natura? Gente porca, meu deus...

Lembrou do porteiro do seu prédio que você trata mal o ano inteiro? Por que será mesmo que os condomínios não contratam rapazes loiros, de olhos azuis, cursando alguma faculdade, para ficar na portaria? Por que você tem que cruzar todo santo dia com aquele cara feio, pardo e com dentes por arrumar? Por que esse infeliz não vai a um dentista?? Faz o que com o salário de R$ 600,00?

Lembrou daquele parente horroroso mas que você finge gostar por que foi ensinado que família deve ser amada acima de qualquer coisa? Como é mesmo o nome dele? Conversaram o que, umas duas horas, ele lembrando de situações "hilárias" enquanto você pensava em mil formas diferentes de se matar alguém? 

Lembrou da sua mãe que sempre foi meio sua empregada e que agora está velhinha e só não foi para um asilo por que o idiota do seu irmão insiste que ela deve ser cuidada em casa? Conseguiu dizer a ela o quanto a ama, duas vezes por ano?

Lembrou daquele idiota do seu irmão, aquele desajustado que não fez faculdade, que trabalha em qualquer coisa e tem a mania de ser solidário? Que coisa de pobre essa história de solidariedade. Como você teria tempo de ganhar dinheiro se fosse solidário, não é mesmo? Que gente estúpida!

E no trabalho, levou aquele presente de dez reais para aquele colega que você nem sabia como se chamava e teve que perguntar para o chefe? Aliás, quanto foi mesmo o presente do chefe? Ainda bem que existe cartão de crédito, não é?

Você deve estar cansado. Não é fácil interpretar como você fez durante um dia inteiro. Mas esqueça a indicação ao oscar, ao menos antes de mudar-se desse país de gente ignorante que primeiro elege um pobre sem faculdade depois uma velha com passado duvidoso. Que lugarzinho você foi nascer, hein!! Com tantos países na europa com problema de baixa população e você aqui, nesse paizeco de quinta categoria!

Ainda bem que é só um dia. Ninguém mais está olhando. Agora você já pode voltar à sua vida normal. Pode tirar a máscara.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Maldito silêncio!

Pode haver coisa pior do que uma madrugada insone?

Siiiimmm!!

Capaz!

Sim. Uma madrugada insone em casa alheia!

Colchão duro demais (ai, minha lombar). Travesseiro mole demais (ai, minha cervical).

Quarto abafado! Como as pessoas conseguem dormir em quarto abafado? Pior que um quarto abafado só um quarto cheio de mosquitos. Felizmente só apareceu um e não durou muito tempo. Tá certo que para acabar com ele tive que me esbofetear umas três vezes, mas valeu a pena.

Por não dormir acabei sentindo fome, sede e vontade de ir ao banheiro duas vezes. E tudo isso em doses homeopáticas, me obrigando a sair do quarto várias vezes. Numa delas, ao voltar para o quarto, bati a porta sem querer. Às 4 e meia da madrugada!! Eu queria sumir. Queria pegar minha nave e partir sem dizer adeus, sem um bilhete sequer, mas, sinceramente, não lembro onde a escondi quando cheguei nesse planeta...

Perto das 5, espiei pela persiana o prédio em frente. No meio de tantas janelas apenas uma com luz acesa. Nenhum movimento, nenhuma sombra, apenas uma patética e solitária luz acesa. A essa altura eu já tinha desligado e religado o micro quatro vezes.

De repente, escuto um ruído lá fora e só então me dou conta: está tudo em silêncio a minha volta. Tudo banhado num inacreditável, quente e grudento silêncio!

Como numa paródia de um velho filme Noir, eu digo pra mim mesmo com voz de detetive canastrão:

_ Maldito silêncio que não me deixa dormir!

Eram quase seis da manhã quando o sono me venceu. Às sete, adivinha? Toca o celular.

Anotar na agenda: nunca mais dormir fora de casa. Nunca mais dormir fora. Nunca mais dormir. Nunca mais. Nunca.

PS. Escrevi esse post ouvindo (entre outras) Good Days no blog da Ju. Seria Mais um blog qualquer?

domingo, 19 de dezembro de 2010

Amor, de novo


Mais do que não saber, eu não gosto de falar de amor, até porque acho um saco a definição que a maioria das pessoas tem sobre o amor e não tô a fim de parecer um alien, não nesse momento. Não que eu não seja, of course.

O Marcos Caiado, de quem sigo o blog e os poemas há vários anos, encerrou o assunto pra mim.

Ele disse que... Hehehehe. Quer saber? Vai lá no blog dele e não seja preguiçoso: deixa um comentário! O cara merece.

Ah, tem um link aí ao lado, mas como eu sei que tu és MUITO preguiçoso, que seja, clica AQUI.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Estranho Amor


Estava lendo o blog da Lua (link aí ao lado) e ela postou um comercial da Coca Cola, muito, como direi... fofo? Mas o que mais me chamou a atenção foi a música. Bateu tri bem no ouvido e lá fui eu garimpar o nome da música e de quem cantava.

A música chama-se Strange Love. Letra abaixo do vídeo. É uma banda sueca chamada Koop. Na verdade é um duo, os caras no segundo plano; eles trabalham basicamente com samplers. A cantora, tri fofa, chama-se Hilde Louise Asbjornsen. O trombonista chama-se Karl Frid.

 


strange love
even though you hurt me I feel
blessed love
baby I'm your puppet
on a string
making me tumble and swing
trouble's what you bring
strange love

strange how
you control my every little
move now
hanging from your strings
is all I know
starring in your puppet show
never let me go
strange love

all the things
you've said and done
there's no space
for me to run
baby I've lost and you have won
cause' all I really want is
strange love

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Por uma vida mais simples


Ser ecológico não é fácil, mas também não é impossível. Eu venho praticando há muitos anos e algumas coisas tornaram-se rotineiras. Resolvi fazer uma lista de todas as ações que pratico, algumas, com certeza, estranhas para quem mora em apartamento, na esperança de que sirvam de exemplo para alguém. Não usei uma ordem específica ou pré-determinada. Apenas escrevi o que me veio à cabeça.

1. Separar o lixo. Eu faço isso há mais de dez anos e não me passa mais pela cabeça a possibilidade de não fazê-lo. Tornou-se parte da rotina.

2. Economizar água. Essa é bem mais recente. Desde que comecei a gerenciar o condomínio há dois anos, percebi a diferença que pode fazer qualquer tipo de economia. E manutenção também é muito importante. Um vazamento apenas pode comprometer todo um orçamento (sempre apertado) e muita água boa é jogada fora. Água é um bem precioso. Ou você não percebe isso quando está com sede ou necessitando de um banho?

3. Na linha da economia de água, aprendi a usar a torneira aberta com menos da metade da vazão. Várias coisas são possíveis de se lavar, inclusive rosto e mãos, com bem pouca água. O problema não está na água que você coleta com as mãos e sim na água que vai fora enquanto você está esfregando as mãos ou o rosto.

4. Diminuir a quantidade de sabão em tudo, inclusive no banho. A menos que a louça esteja muito engordurada, uma pitada de detergente na esponja é suficiente para limpá-la. Aprendi com o Guilherme a diluir o detergente em água e usá-lo com um vaporizador. Muito econômico. Dependendo do que for lavar, nem precisa molhar a louça antes. Limpar as roupas também depende de pouco sabão. Se você não trabalha na roça ou na construção civil, não tem porque encher a máquina de espuma. O que limpa, de fato, é a fricção, não a quantidade de sabão. A minha roupa sai limpa e com cheiro de tecido, não de sabão, por mais perfumado que esse seja. Detalhe importante: não uso amaciante. A resina usada nele para "amaciar" as roupas gruda-se em tudo, emporcalha os cantos da máquina de lavar e não permite aproveitamento da água que sai da máquina.

5. Tempo do banho. Eu tenho uma técnica infalível. Ligo o chuveiro e molho todo o corpo. Desligo e passo a me ensaboar. Faço todo o processo de ensaboamento e esfregação com o chuveiro desligado. Não gasto sabão além do realmente necessário. O tempo de luz e água economizados pode compensar um tempinho a mais só curtindo a água, no final do banho. E esse tempinho no final pode ser muito relaxante. E o que te relaxa te deixa em melhor sintonia com o mundo. E isso tende a ser ecológico, por extensão. Uma pessoa relaxada não come sem necessidade, não compra por impulso, etc, etc, etc. Ah, além disso, como alguém consegue limpar-se se passa o sabão embaixo da água?? A água consome o sabão antes que surta efeito sobre a pele!!

6. Lixo orgânico. Essa normalmente causa espanto. Há quase dois anos eu não preciso de coleta de lixo orgânico. Todo o lixo produzido na cozinha vai para a sacada e vira adubo. Eu tenho dois pés de mamão, um pé de amora, um pé de maracujá, mirra, guaco e algumas plantas ornamentais plantadas. Há pouco tempo colhi 14 pequenos mamões. No mesmo local descarto toda a poeira da varrição da casa e toda caliça gerada pelas minhas pequenas obras. Vivo consertando coisas, quebrando uma parede aqui, lixando outra ali. Agora mesmo estou (pessoalmente) reformando minha sala. Todo o lixo gerado vai pra sacada. No caso da caliça eu quebro tudo com um martelo até que vire pó. Esse pó incorpora-se sem dificuldade nas composteiras, uma de cada lado da sacada.

7. Areia dos gatos. Essa eu nunca vi outra pessoa fazendo. Eu tenho na sacada duas caixas grandes de madeira, onde deposito a areia dos gatos saturada de xixi. As fezes deles são descartadas no vaso sanitário. Essa areia saturada fica pegando sol e chuva durante bastante tempo até que seja "lavada". Depois desse tempo eu a espalho e deixo pegando sol por uns dois dias. Depois de bem seca, é peneirada e guardada em bombonas de 5 litros de água mineral. A peneira é feita de potes de sorvete furados com um ferro de solda, ou seja, material reciclado, como as bombonas. As bandejas onde a areia seca, são antigas bandejas de xixi, já descartadas por começarem a ressecar e quebrar. Pelas minhas contas, nos últimos quatro anos, deixei de comprar em torno de 1000 quilos de areia nova. Isso mesmo: uma tonelada! Em termos monetários, isso significou uma economia de R$ 1.250,00. Pra completar, não descartei na natureza essa mesma tonelada de areia. Até porque, essa areia não é areia. É argila. Argila agrupada em grumos bem secos. Quando molhada e amassada pode virar uma lama extremamente pegajosa. Imagina isso tudo somado ao xixi e cocô dos gatos que as pessoas descartam junto! Credo!

8. Aproveitamento de água da máquina de lavar. A última água que sai da máquina, praticamente livre de sabão, principalmente reduzindo a quantidade colocada na máquina, eu guardo em garrafas de água mineral de dois litros e uso para regar tudo que está na sacada: composteira, plantas e caixa de areia durante a reciclagem. Essa mesma água também serve para pequenas limpezas, como do próprio piso da sacada, por exemplo, ou para lavar ferramentas.

9. Aproveitamento de água da cozinha. Eu adoro feijão. Mas, quando o feijão termina, a panela de pressão em que foi feito está tomada de uma camada seca e precisa ficar de molho antes de lavar, cheia até a borda. São 4,2 litros de água potável! A água que amaciou a sujeira da panela eu não jogo na pia. Jogo-a diretamente sobre a composteira ou em alguma planta maior, das que consomem muita água. Toda a água usada nos molhos pré-lavagem pode ser agrupada num balde e usada para a rega. A terra se responsabiliza por incorporar os resíduos orgânicos soltos na água e você não corre o risco de entupir os encanamentos. Encanamentos funcionando bem geram economia no consumo de mão-de-obra, além de evitar o stress com contratação de mão-de-obra de baixa qualidade. Lembra do item 5? Evitar stress é ecológico.

10. Lavagem de roupas. Exemplo prático: como trabalho em casa, eu levanto e visto uma camiseta velha (as melhores de usar), uma bermuda e um chinelo. Se um cliente me liga para trazer um micro, mudo a roupa para recebê-lo: calça, camiseta polo e tênis. Assim que ele se vai, volto à vestimenta caseira. Não levo aquela roupa usada por pouco tempo para a lavagem. Não deu tempo de sujar. Ela pode ser usada novamente para ir à lotérica pagar contas ou para ir ao Bourbon fazer minhas compras. Resumindo: não lave o que não precisa ser lavado. Você economiza água, energia elétrica, tempo e a própria roupa. Na maioria dos casos o que detona a roupa não é o uso e sim a lavagem. Lavagem à máquina então, detona a roupa rapidamente. Detalhe: lavar roupa (calcinha ou cueca) durante o banho não é exatamente econômico. Se você usa chuveiro elétrico, são 3 litros de água por minuto. Se usa ducha com aquecedor a coisa piora muito: 8 litros por minuto! Faça as contas de quanto tempo gasta nessa operação e veja se vale a pena.

11. Uso do balde. Para lavar pouca coisa ou roupas pequenas como camisetas, meias e cuecas, não uso mais a máquina. Com quatro meios baldes (28 litros de água, considerando um balde grande, com capacidade de 14 litros), um para a lavagem e três para o enxágue, lavei três camisetas, duas cuecas e um calção de fibra sintética. A mesma roupa na máquina consumiria 170 litros de água, sem contar a energia elétrica. Além disso, usei no balde apenas um quinto do sabão em pó que normalmente se recomenda usar na máquina.

12. Reaproveitamento de qualquer coisa. Tudo que eu tenho e por algum motivo considero inútil (e isso é bem fácil de acontecer) eu passo adiante por doação. Nunca vendo. Se não serve mais para mim, com certeza serve para outra pessoa com menor poder aquisitivo. A idéia de dar ao invés de vender baseia-se num princípio ecológico. Se não há valores envolvidos, a emissão de carbono daquele ato é mínima. A pessoa que recebe pode direcionar aquele recurso para outra situação, como um curso profissionalizante para a filha, caso do porteiro aqui do prédio, para quem já doei tv, geladeira, fogão e outras coisas que nem lembro. Doar é um ato ecológico.

13. Energia elétrica. Assumir a gerência do condomínio também me ensinou essa. Quando comecei, em dezembro de 2008, há exatos dois anos atrás, a conta com a CEEE era em torno de R$ 400,00. Esse mês paguei R$ 271,00. A diferença de R$ 130,00 representa o valor gasto mensalmente em passagens pelo nosso porteiro. Por incrível que pareça, quando assumi, mesmo morando a mais de quatro quilômetros do trabalho, ele não recebia vale-transporte. Consegui toda essa economia com um ato simples: todas as noites eu faço uma ronda no prédio e desligo todas as luzes que os condôminos vão deixando ligadas. Ainda não sobrou dinheiro para colocar sensores de presença, mas é um exercício interessante andar de escada por sete andares. Nem preciso dizer que também diminuiu a troca de lâmpadas. Menos tempo ligadas, maior vida útil. Para fazer essas rondas, comprei uma lanterna de leds, muito econômica e com carregador embutido. Não necessita de pilhas. Cada carga dura duas semanas, em média. Tem a opção de usar dez ou quinze leds ligados, mas sempre uso com dez. Em casa, nada de luzes ligadas onde não tem alguém fazendo algo. Se o micro fica ligado enquanto vou fazer outra coisa, desligo monitor e caixas de som. Na madrugada, para ir ao banheiro, por exemplo, a mesma lanterna de leds mostrou-se muito eficiente.

14. Lavagem do carro. Nesse domingo fui visitar amigos na Zona Sul. O carro estava coberto de poeira, pois nossa garagem no segundo andar é aberta em toda a extensão nos fundos, protegida por uma grade. O piso é ruim, de cimento, ou seja, uma fábrica de poeira. Mesmo assim, com apenas seis garrafas de dois litros de água consegui lavar o carro. Ou seja, gastei apenas 12 litros de água para lavar o carro todo. Mais econômico que isso, só usando uma flanela para tirar o pó. Hehehehe.

15. Uso do carro. Tento usar cada vez menos o carro. Além da questão de saúde física, meu carro é velho e pouco econômico. Tenho que trocar o carburador e isso representaria um gasto de mil reais, mais ou menos. A opção mais viável é usar pouco, somente quando for realmente necessário.

16. Economia. Essa é para finalizar. Percebeu como todo ato ecológico é também um ato de economia? Quando você economiza e não gasta à-toa está sendo ecológico. Sendo ecológico você economiza. Economizando, deixando de ser consumista, você se torna uma pessoa mais simples. E pessoas simples são mais agradáveis de se conviver, geram menos stress a sua volta, vivem (bem) com menos recursos. Alguém consegue ver alguma desvantagem nesse processo?

Isso é o que eu faço, o que eu pratico. E você, está fazendo o que para amenizar os problemas do planeta?

domingo, 12 de dezembro de 2010

John e a banana


John deve ter um dia de vida, no máximo.

Encontrei-o na mesma rua aqui ao lado onde encontrei a Nina, a gatinha pitoca que é a mamãe da família de seis gatinhos que moram comigo. Sim, eu adoro animais e só não tenho mais por que não tenho espaço nem grana disponível.

Mas não animais comprados em lojas. Que bom que tem gente que gosta deles, né? Eu prefiro os animais perdidos, os sem perspectivas. Como John.
Ele estava, curiosamente, na mesma calçada em que Nina estava há três anos atrás. Tão pequenino, tão quietinho que, se um cachorro ou gato não o atacasse, alguém pisaria em cima.
Pelas penas, deve ser um filhote de pardal, macho. Não esboçou grande reação quando fui pegá-lo. Nenhum ninho à vista, nenhuma mamãe pardal por perto. Desisti de comprar pão e voltei com ele pra casa.

Caixinha de papelão forrada com toalha, tampinha de requeijão com água, pedaço de banana, tudo a salvo dos seis gatinhos, claro.
Mas, percebi que ele queria mesmo era um calorzinho. Gostou da minha mão. Quando fui soltá-lo agarrou-se com força a um dedo. Depois, gostou de mexer as asas e treinar um vôo de 15 centímetros de altura. Como eu tinha um cliente vindo trazer um micro tive que deixá-lo sozinho por quase uma hora. Depois, quando voltei, até tentou fugir, mas, quando sentiu o calor da mão, aquietou-se novamente e ficou curtindo. Fechou os olhinhos e cochilou na segurança que o calor lhe transmitia.
Tomou água, mas não quis saber da banana. Preferiu migalhas de pão. Significativo.

O nome me veio por que estava com uma música do Belchior na cabeça naquele momento. Justo na parte em que dizia: "John, eu não esqueço, a felicidade é uma arma quente..."

O encontro se deu à tarde. Coloquei-o para dormir, bem aconchegado, quase 11 da noite. Ele precisa de tempo para aprender a voar. Não está em gaiola. Odeio gaiolas. Quando estiver pronto, vai embora, com certeza. Não tem sentido ter asas e não sair por aí voando. Nesse momento, está seguro e tranquilo. Deu sorte de me encontrar.

Mais sorte dei eu.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Transportadoras do século passado

Estamos em que ano mesmo? Eu sempre me faço essa pergunta quando vejo alguns absurdos que ainda acontecem, apesar de toda tecnologia a serviço do ser humano.

Eu fiz, ultimamente, algumas compras online. Quatro, na verdade. Duas delas, com objetos pequenos, um livro numa delas, uma caixa de dvd's em outra, essas chegaram sem nenhum problema. Coincidentemente ou não, as duas vieram pelos Correios.


No entanto, as outras duas compras, de objetos grandes, vieram por transportadoras. No primeiro caso, numa compra feita no Extra.com, os caras da transportadora conseguiram me entregar uma tv que não era minha e, é claro, entregaram a minha para a outra pessoa, o verdadeiro dono daquela que veio para mim. Apesar de ser num bairro aqui ao lado, nossos nomes não se pareciam e as ruas eram totalmente divergentes, enfim, não tinha nada que pudesse ter gerado tal confusão. Apenas falha humana. Como no meu caso foi o porteiro do prédio quem recebeu, só fui me dar conta na noite daquele dia, quando fui abrir a caixa. Não, eu não sou ansioso e a caixa ainda ficou um tempo sem abrir, mesmo eu já tendo chegado em casa mais cedo. Foram dois dias em função de emails, telefonemas e muita paciência testada.


Quando o entregador se deu conta do que tinha feito, isso lá na casa do outro cliente, voltou aqui e me deixou um bilhete, extremamente mal escrito, coitado, explicando o que tinha acontecido e que tinha "urgência" na troca. Deixou um número de celular para que eu, EU MESMO, ligasse pra ele. Boa essa! Muito boa. O cara faz a cagada, não me liga e me deixa o número do celular dele para que eu ligue e resolva o problema dele. E com urgência! A sorte dele é que eu sou um cara solidário. Ele deve ter sido tão xingado pelo outro cliente que chegou aqui parecendo um cachorro assustado. Falei umas bobagens e fiz o cara rir um pouco. Ele estava tri estressado e com medo de ser xingado por mim também e riu aquilo que se chama de riso nervoso. Troca feita, assunto encerrado.


Bem, o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, certo? Errado. Risos. Comprei uma lavadora de pressão que o prédio aqui precisa faz muito tempo. No Mania Virtual, loja altamente conceituada no e-Bit, site no qual eu me associei para ter alguma segurança nas compras.


Comprei no dia 25 e no dia 29 recebi um email da loja informando que a mercadoria seria entregue até dia 1º. Dia 6 (ontem) liguei pra loja pra saber o que estava acontecendo. A atendente informou que foi feita uma tentativa de entrega no dia 3, às 14:20. Começa que dia 3 não é dia 1º. E, nesse dia e nessa hora, eu estava em casa e o porteiro estava lá embaixo. Ou seja, a mais deslavada mentira. Como diria o seu Lili, eu prefiro ter um filho viado do que um filho transportadora! Ah, a atendente me deu uma nova previsão: de segunda (dia 6) a quarta (dia 8), entre 9 da manhã e 9 da noite. Isso é ridículo!! É um desaforo!! Basta me ligar e marcar comigo a hora e o dia!


Em que ano, em que século essas criaturas estão vivendo? Isso é falta de respeito com o cliente. Porque eu não sou cliente apenas da loja que me vendeu. Eu sou, nesse momento, também um cliente da transportadora. O frete está sendo pago por mim. E ainda que fosse pago pela loja em alguma promoção, nunca seria de graça a entrega!


Antes de escrever esse texto, falei via MSN com uma amiga que trabalha numa transportadora aqui de Porto Alegre. Ela me disse que eles sempre ligam para combinar a entrega. Quer atitude mais simples do que essa? Mas, ela também me disse que a prática comum nas transportadoras ainda é a entrega no escuro. Dá para acreditar numa coisa dessas?


Hei! Senhores proprietários e gerentes de transportadoras! Respeito com o cliente! Acabem com a entrega no escuro! Uma ligação de celular ou um email trocado com o cliente e vocês embarcam no século 21.


E como diria Spock, observando o ilógico (pra não dizer estúpido) comportamento humano: fascinante...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Lost for Words

Estou ouvindo Au Revoir, Simone, enquanto jogo palavras cruzadas. Em inglês. É meu jeito de "estudar" inglês sem levantar a bunda da cadeira e sem mexer no bolso. Coisas de um pobre preguiçoso. Ou um preguiçoso pobre, tu escolhes.

Fase Expert. No meio de 122 casas apenas uma letra preenchida: G. É a primeira de uma palavra de sete letras. É tudo que eu tenho para tentar descobrir qual é a palavra. Das outras trinta palavras, nem uma letra sequer.


Existem 837 palavras em inglês que começam com G e possuem sete letras. Como eu sei disso? Segredinho de rato de internet. Se eu tivesse paciência bastaria preencher os espaços com cada uma dessas 837 palavras até encontrar a certa. Eu não tenho. E perderia a graça da procura, o prazer da descoberta, o "Ahá, consegui!". Por que perder essa sensação propositalmente?


Esqueci de dizer: essas cruzadas são diferentes. Não existe uma definição que tu devas conhecer ou concluir. Existem apenas os espaços a serem preenchidos. Como esses espaços na cabeça da gente. E ao lado, uma caixa com todas as letras do alfabeto. A boa notícia é que quando tu acertas uma letra, consequentemente ela é preenchida em todas as posições nas quais aparece. A má notícia é que, quando tu erras a letra, aí fudeu. Tomar decisões é sempre difícil. Claro que pode ser divertido se tu não sofres por qualquer baboseira. Meu caso.


Por experiência, aprendi a procurar letras que se repitam dentro da palavra. Como as pessoas. Se tu observares bem, vais perceber como elas se repetem. Isso te dá um certo poder de "pré visão". No entanto, te torna pedante aos olhos alheios. Nada é perfeito mesmo.


Nesse caso, a segunda letra se repete na sexta casa. Se essa letra repetida for um A, o número de palavras possíveis cai para 22. Fácil, né? Mas, eu disse "se". Algumas palavras eu nem coloco no quadro, apenas imagino. Elas devem fazer sentido próximo das outras. Afinal, por que ficar próximo se não faz sentido?


Então, sem muita dificuldade, concluo que a segunda letra não é um A. E se fosse um B? Não pode. Não existe nenhuma palavra em inglês que comece com G e seja seguida de um B. Se o jogo fosse meu eu poderia inventar palavras, como eu fazia quando era apenas um moleque correndo nas ruas poeirentas de Gravataí. Mas o jogo é alheio. Ou sigo as regras ou caio fora. Como fiz no meu último emprego: as regras eram estúpidas, eu não me divertia, então caí fora.


E se fosse um C ou um D? Mesmo caso do B. Não existem. Sigo na busca. Existem apenas 3 palavras que comecem com G e tenham um E na segunda e na sexta posição. E nenhuma das 3 faz sentido. Em duas delas, o E aparece mais de duas vezes. A terceira cria palavras absurdas em suas ramificações. Sigo.


Tem gente que acha chato jogar palavras cruzadas. Outras consideram um jogo estúpido, uma perda de tempo. Eu, não. Eu gosto do desafio mental, do processo. Eu tive uma namorada que não queria o processo, queria as coisas prontas, queria que eu usasse palavras doces, que fizesse promessas eternas, como se nada mudasse com o tempo, como se a vida e os relacionamentos não fossem dinâmicos. Nunca disse o que ela queria ouvir simplesmente por que não podia mentir. Um dia, óbvio, ela desistiu.


Vamos para o F e o H: também não existem.


Letra I: apenas uma palavra, GIARDIA, uma lombriga, provoca diarréia. Como certas pessoas que dão dor de barriga na gente. Esta até que poderia ser se o A não aparecesse mais de uma vez.


Letra J: nada. Letra L: 2 palavras. Letras M e N: nada. Letra O: 7 palavras, mas nenhuma faz sentido no contexto. Letras P e Q: nada. Letra R: 10 palavras, mas nenhuma se insere adequadamente. Letras S e T: nada. Letra U: 3 palavras que não servem. Letras V, W, X, Y e Z: nada. Acabou o alfabeto e não encontrei. Vou ter que recomeçar. Deixei passar a palavra. Achaste que seria fácil? É como na vida. Às vezes a gente examina todas as opções e ainda assim não encontra uma saída.


No entanto, agora, tenho menos opções para analisar: A com 22 palavras, O com 7 palavras e R com 10. Apenas 39 palavras. Uma delas deve servir.


Também esqueci de dizer: tem um botão chamado Give Up. Desistir. Clicando nele o quadro todo é preenchido. A vida não tem um botão assim, tem? Quero dizer, podemos desistir, mas as respostas não aparecem imediatamente após decidirmos. Na maioria dos casos em que desistimos de algo ou alguém, ficamos sem saber o que realmente teria acontecido se insistíssemos mais um pouco. Qual seria a reposta certa, afinal? Nas palavras cruzadas sempre tem, mas e na vida?


Olho para o botão: ainda não. Sou teimoso, quero achar essa palavra.


Vamos de novo: A. Revirei todas as 22 palavras e nada. O: nenhuma das 7 se encaixou.
Cansaço mental. Pausa para ir comprar pão e fazer um lanche. Seguida de uma pausa para dar atenção a três dos seis gatos. Quando um gato quer atenção, tu "tens" que dar e acabou a conversa.


..................................................................


Faltam as 10 palavras com R na segunda e na sexta posição. Tem que ser uma delas!

Ahá, consegui!


Eu já tinha passado mais de uma vez por essa palavra: GROCERY. Não, apesar de parecer, não é grosseria. Falso cognato. Risos. É mercearia, mercado, lugar onde se compram alimentos. E onde tu achas que eu fui buscar meu pão uma hora atrás? Na grocery do Gringo. Hehehehe.


Ufa! Foram umas seis horas em volta disso. Tudo porque eu não tenho paciência. Imagina se tivesse. :)


A segunda palavra que encontrei foi ARCTIC (Ártico). A terceira, PETITION (petição). Depois disso, levei menos de três minutos para descobrir as outras 28 palavras. Barbada!
Quando tu descobres a palavra certa para começar uma história, até falar a verdade fica fácil.


Bom, agora com licença que vou pra cozinha limpar a bagunça que provoquei. Deixei 6 ovos cozinhando quando voltei da grocery, a água secou e alguns estouraram. Tem gema de ovo na parede, no piso e na cortina. Em busca da palavra certa, às vezes esquecemos das coisas banais da vida. Mas também pode ser a idade. Do que estávamos falando mesmo?

sábado, 4 de dezembro de 2010

A melancolia, desesperadamente

De tanto receber convites de diferentes pessoas (até onde me lembro foram quinze convites) acabei me associando a um site de relacionamentos. Nem sei direito porque, mas me associei.

Logo eu que não tenho orkut nem facebook nem twitter. E olha que amo informática. Sou técnico, inclusive, pra quem não sabe. Domino alguns programas gráficos, desmonto e remonto um micro de olhos vendados e sou rato de internet. Sou capaz de passar uma madrugada navegando e garimpando coisas das mais variadas. Sou capaz de passar um final de semana inteiro dentro de casa sozinho com meus gatos e um computador com acesso.

Não tenho nenhum dos três citados por que considero coisas de moda e dispensáveis. Alguém lembra de quando era "obrigatório" ter orkut? Eu ainda me lembro do tempo em que o carinha que não usasse sapato de bico fino para ir à discoteca dançar e azarar as meninas, "estava por fora". Isso há mais de 30 anos, of course. E eu não tenho saco para modismos. Ah, eu usei sapato de bico fino, sim, mas, há mais de trinta anos eu era um guri idiota. Hoje, não sou mais guri.

Não vou dizer o nome do site por que não pretendo fazer propaganda. Segundo o tal site, de 29 mulheres e um homem que acessaram meu perfil (sim, teve um cara que acessou), 20 querem me conhecer. Quando cliquei para saber quem eram, me pediram 50 dólares para ativar meus superpoderes e ficar sabendo os nomes. Meu, eu prefiro ter um filho viado do que um filho com superpoderes! Grande seu Lili! Bem capaz que vou gastar suados 50 dólares com uma coisa dessas!!! Quem quiser me conhecer que use o chat do tal site e diga: Oi! Chega a ser idiota de tão simples!

Viajei. O que eu queria falar era de outra coisa. As duas palavras que mais tenho lido no tal site quando acesso os perfis de mulheres "aparentemente" interessantes são deus e felicidade.

Eu sou ateu, então nem preciso me alongar sobre a primeira palavra. Já a segunda, felicidade, eu acho um saco. Gente feliz é um saco. Gente feliz não pensa. E eu prefiro gente que pensa. Ou ao menos que pense que pensa. Como eu. Gente feliz "aproveita a vida". E, com raríssimas exceções, não olha pros lados. Cara, como vou ser "feliz" vendo, ouvindo e lendo tudo que está acontecendo? Não sou cego, não sou surdo e aprendi a ler com seis anos de idade. Portanto, não sou feliz.

Aliás, melancolia deveria ser ensinado nas escolas. É preciso ser um pouco melancólico para entender a profundidade da vida. Eu cultivo minha melancolia. Não a deixo tomar conta, por que já tive depressão e gente depressiva é tão cansativa quanto gente alegre. Mas a deixo sempre por perto, a melancolia. Não quero perder essa perspectiva diferente, esse olhar que se distancia propositalmente do que é bonito e fácil. Eu quero continuar enxergando aqueles que não possuem nada, aqueles que choram sem fazer alarde, aqueles que sentem dor sem dar um gemido. Não me peçam para ser feliz ou para fazer alguém feliz. Essa não é minha função.

E, como diz a Joice, que eu ainda não sei se é a Joice de quem eu gostava muito e nunca lhe disse ou se é outra Joice, uma nova Joice, mas que escreve bem pra caralho: eu não vim ao mundo pra fazer volume!

Outro dia, se ela deixar, coloco aí ao lado um link para o blog dela.

Pra quem pensa que pensa sugiro uma leitura: A felicidade, desesperadamente. O título é genial, porque engana. O autor é André Comte-Sponville. Tem gente que acha que o cara fala em felicidade. Eu acho que ele fala de vazio. Tire suas próprias conclusões. Se quiser me dizer o que achou, comenta ali onde eu pergunto: Vai ficar quieto?

domingo, 19 de setembro de 2010

Projeto Formiguinha - fazendo a diferença

Conheci Cléo Penha de uma forma curiosa: durante uma viagem de ônibus. Ao pegar o T3 enquanto voltava para casa, acabei sentando ao lado dela. Não demorou muito para que ela me abordasse e perguntasse se eu poderia dar-lhe um instante de atenção.

Nossa conversa durou até o momento em que ela desceu do ônibus. Falei-lhe do blog e de que eu poderia ajudá-la a divulgar a idéia. Ela anotou seu email num pedaço qualquer de papel e passamos a manter contato. Transcrevo abaixo a entrevista que fiz com ela via email:

Neurônio Frito - Quando e como foi que você se interessou pelo câncer de mamas?

Cléo Penha - Pelo câncer de mamas propriamente dito, não me interessei jamais, por preconceito provavelmente (não tenho, não tive e acredito que nunca terei um), não pensei jamais em trabalhar defendendo essa causa. Mas, após fazer o curso para voluntárias do SESC, fomos visitar algumas instituições parceiras do SESC, para concluir o curso e receber o certificado. Após visitar várias instituições, como creches e asilos, chegamos ao IMAMA onde fomos recepcionadas com uma palestra explicativa não sobre o câncer de mamas, mas sobre a prevenção. Sobre a importância da prevenção para a erradicação da doença. Sobre o índice de mortalidade, pela falta de conhecimento e pelo índice de cura pelo conhecimento precoce. No mesmo dia, estava presente a Zero Hora, fazendo uma cobertura para o caderno Saúde. Fui convidada para fazer parte da foto que sairia no caderno de sábado. Senti-me inserida no contexto com uma grande alegria interior. Abracei a causa da Cura.

NF - Como surgiu a idéia de abordar as pessoas dentro de um ônibus?

Cléo - Na verdade, não sei. De repente, vi uma oportunidade singular de divulgar para pessoas desconhecidas com as quais temos a oportunidade de um contato físico bem próximo por alguns minutos, entre uma parada e outra. Na maioria das vezes perdemos essa oportunidade pelo nosso "ostrismo". Eu chamo esse processo de "humanização volante”. Hehehe. Até os cachorros se saúdam quando se encontram na rua!

NF - De modo geral, como as pessoas reagem?

Cléo - Surpresas! De cara feia! Com olhar desconfiado quando ofereço um pequeno presente: uma amostra de batom da Avon. A Avon é parceira nesse projeto e estou buscando outros parceiros aqui em Porto Alegre. Uso alguns artifícios na abordagem: a auto-estima representada pelo batom, a fé representada por um santinho e a saúde, através da bulinha do IMAMA que traz informações valiosíssimas para quem quer praticar a prevenção.
Passada a surpresa inicial, para não me tornar muito invasiva, rapidamente dou o recado: autoexame, alimentação sadia, visita ao ginecologista e a mamografia. No caso da mamografia, enfatizo a Lei Federal 11.664 que dá direito a todas as mulheres com mais de 40 anos fazê-la gratuitamente.
No final é só sorrisos e agradecimentos.

NF - Quantas pessoas, em média, você atinge diariamente com esse trabalho?

Cléo - Não sei exatamente. Não pego ônibus todos os dias, mas quando pego, pelo menos duas pessoas por itinerário sentam ao meu lado, e nunca perco a oportunidade. Mas também tenho aproveitado a sala de espera de consultórios quando vou fazer consultas de rotina. Hoje, por exemplo, estive no hospital Santa Rita acompanhando uma amiga em cirurgia. Aproveitei o longo tempo de espera para distribuir as bulinhas e divulgar para as 9 pessoas que estavam lá. Foi ótimo, todos se interessaram em me ouvir. Em menos de um mês de prática distribui 56 bulinhas do IMAMA. Inclusive batizei-o como "formiguinha" por lembrar exatamente a persistência.

NF – Você tem alguma espécie de ligação com o Imama?

Cléo - Sou uma voluntária como qualquer outra, mas, a meu ver, com um pequeno diferencial: paixão.

NF – Você acredita que esse seu trabalho de "formiguinha" gere algum resultado concreto?

Cléo - Sim, creio nisso. Se eu atingir em cheio uma mulher que seja, ou seu companheiro, teremos uma vida salva.  O assunto será lembrado cada vez que ela usar o espelho para pintar a boca, por exemplo. Pode ser que o consciente coletivo seja acionado. Teremos talvez mais uma multiplicadora da causa. E assim por diante...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O HOMEM INVISÍVEL

O tema é controverso, não tenho dúvidas. Mas, de certas coisas, sem fazê-las, não há como saber o resultado. Pois bem, eu tentei ajudar um morador de rua a retomar sua vida. Aproveitei que teria uma semana de férias, de 16 a 22 de agosto. Durou menos de uma semana a tentativa, como poderão ler na história que se segue.

Eu conheci JC há alguns meses, sentado nas calçadas do bairro Azenha, onde trabalho. Me chamava a atenção o fato de que ele evitava os bandos de moradores de rua, andando quase sempre sozinho. Tudo começou como sempre: uma moeda. Independentemente do que digam ou aconselhem, sim, eu sempre dou moedas para pessoas "em situação de rua". Eu fui morador de rua quando vivi em São Paulo e sei bem a diferença (principalmente psicológica) que isso pode fazer para quem vive numa calçada.

Mas, eu ia dizendo, nossos primeiros contatos foram por causa das moedas. Muito lentamente as primeiras palavras foram sendo trocadas e, a cada vez, eu me surpreendia com a facilidade de comunicação e a capacidade de articulação de pensamentos e idéias de JC. Sim, eu sei, o preconceito determina que moradores de rua são pessoas no limite da ignorância. Eu também carrego esse preconceito.

Pois bem, a idéia foi surgindo aos poucos. Num final de tarde em que lhe ofereci 2 reais, ele me disse assim: "que bom esse dinheirinho, pois essa noite vai ser muito fria..." Eu sou um cara grande, forte e, segundo meus inimigos, frio e arrogante. E mesmo assim, aquilo que me cortou o coração. Lembrei, obviamente, das noites que passei em Sampa, tentando dormir pelas praças, escapando da chuva embaixo de marquises. Era época de verão. Tentei imaginar como teria sido se fossem noites de inverno. Falei com um amigo que tem uma sala desocupada no prédio onde moro e ele concordou com a idéia de usar a sala para fazer uma ponte entre a calçada e a retomada da vida de JC. Inclusive, ele e a namorada me deram carona para buscá-lo na rua numa tarde de domingo, já que continuo com o santana parado, esperando refazer o fundo. Tive o cuidado de forrar o banco do carro deles com uma coberta, pois tinha idéia do cheiro que ficaria grudado no estofado. É um cheiro quase indescritível, que gruda nas coisas e nos lugares por onde a pessoa passa.

No domingo mesmo tive o primeiro choque: na sexta eu lhe dera dinheiro para comprar algo para comer, mas ele gastou quase tudo em bebida. Estava meio fora de si quando o encontramos às duas da tarde. Tive que acordá-lo e convencê-lo a entrar no carro, pois só falava em ir conseguir um prato de sopa.

Sobre a bebida, vale um parágrafo. Eu sei — e não critico — que moradores de rua bebem para suportar a falta de comida, entre tantas outras faltas. Eu passei quatro dias inteiros sem comer e sei o que passa pela cabeça de quem está com fome. Mas, em todas as conversas com JC, ao longo de meses, nunca o encontrara bêbado. E não conseguia imaginá-lo como um alcoólatra.

Bom, resumindo, ele ganhou roupas, calçado, itens de higiene, muitas coisas novas e não apenas reaproveitadas. Ganhou a mesma comida que eu e Sarah comemos, um bom colchão, cobertas e travesseiros, e, principalmente, um teto sobre a cabeça.

Curiosamente, ele passou dois dias se queixando de dores nas costas e de dor de cabeça, coisa que nunca fizera nas nossas conversas pelas calçadas. Só parou de gemer e se queixar quando disse-lhe que aquilo estava incomodando e que ele devia pensar: ruim mesmo estava na rua.

Nesse meio tempo, baseado em informações que ele me passou, fiz contato por email e MSN com a única irmã que ele tem e que mora em Toronto. Ela, aos poucos, foi me contando toda a história deles, de como ela, a mãe deles e outras pessoas tentaram ajudá-lo ao longo de muitos anos, de como nunca deu certo, me contou dos filhos que não querem nem ouvir falar dele e de como ele chegou nesse ponto, aos 57 anos de idade. Bem, eu já tinha tomado a atitude e tinha que lidar com isso agora.

Na segunda-feira, JC estava de banho tomado, roupa limpa, cabelo cortado e barba feita, quando saímos para ir a uma agência da Caixa retirar um benefício de Bolsa Família no valor de R$ 68,00 a que ele tem direito. Há três meses não ia retirar pois estava sem documento. No sábado, antes de recolhê-lo eu resgatei sua carteira de identidade de uma dessas entidades que ajudam pessoas carentes e sem nenhuma perspectiva. À parte o fato de que é um trabalho maravilhoso, o lugar é deprimente e, a meu ver, insuportável para quem tem certa noção das coisas, caso de JC. Sim, seria o meu caso também.

Além de estar sem documento, outro fato é que ele nem poderia entrar no banco naquele estado em que se encontrava. O cheiro de uma pessoa nessa situação é tão forte que toma conta de onde ela passa ou onde toca. Enfim, depois de retirarmos o valor de três meses do benefício, ele me disse que iria procurar o pessoal da FASC, uma entidade pública de assistência social. Sugeri que deixasse a maior parte dos 204 reais comigo, pois sei bem das tentações que rondam as ruas da cidade. Ele concordou e se foi. Naquela segunda-feira, retornou antes do final da tarde e sem nenhum sinal de bebida.

Na terça pela manhã, disse-me que precisava procurar uma médica que já o atendera, no Centro de Saúde Santa Marta, no centro da cidade. Disse-me que era bipolar e que precisava de medicação. Nesse mesmo dia, no final da tarde, eu tinha uma paciente de massagem e saí de casa às 5 da tarde. Quando retornei, às 9 da noite, tomei um grande susto: ele estava deitado na calçada em frente ao prédio! Fui levantá-lo e estava caindo de bêbado. Levei-o para a sala no quinto andar, mandei (no sentido literal da palavra) que fosse tomar um banho e disse-lhe que falaríamos na quarta pela manhã. Como todo bêbado, estava valente e metido a fazer piada. Não tomou uns petelecos por muito pouco.

Na quarta, ficamos esperando uma ligação da irmã dele, que acabou não ocorrendo por que não foi muito bem combinado. Durante vinte minutos ele ficou sentado a minha frente e dei um pito tão grande que ele parecia ter uns dez anos de idade. Estava numa agonia terrível, dizendo que conversar com a mãe dele (que mora junto com a irmã) só iria fazê-la sofrer. Percebi o nítido alívio quando eu desisti de esperar a ligação. Saiu de novo dizendo que dessa vez sim, iria falar com a médica, que no dia anterior não conseguira, que encontrara uns colegas de rua, que ofereceram-lhe bebida e ele sentou para conversar e acabou bebendo. Que sabia que isso era errado. Que sabia que eu estava certo. Que queria dar um jeito em tudo e que queria aproveitar a oportunidade que o "anjo Wladimir" lhe dera. Que eu tinha razão quando disse-lhe que, desse jeito, iria morrer numa calçada, esperando para ser enterrado como indigente. Disse isso e saiu.

Saiu e não voltou. Foi a última vez que o vi de perto e que falei com ele. Agora, eventualmente, o vejo da janela do escritório, sentado na mesma calçada. De tudo que lhe demos, só restou uma camiseta de manga longa e uma calça jeans. O tênis novo e a jaqueta praticamente nova já era. Já está sujo novamente. Ao meio-dia e nos finais de tarde ele some daqui. Sabe que era nesses horários que sempre nos encontramos. Está me evitando. Preferiu a "liberdade da calçada" a ter que pagar o preço de seguir regras para retomar a vida. Não me pediu o dinheiro que estava comigo. Estou combinando com a irmã dele um jeito de enviar-lhe o dinheiro. Ela pediu que eu esperasse, agarrando-se numa esperança de que ele repense e me procure.

Agora, todos os dias eu penso no que ele me disse numa das conversas: "as pessoas passam e não me veem... é como se eu fosse invisível..."

E eu, de "anjo" fui eleito a capeta, desses que a gente evita de cruzar a qualquer custo. Vida estranha, esta que vivemos...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sou mais o Dunga

O Dunga não quis dar entrevista exclusiva para a Rede Globo e xingou um imbecil que estava na entrevista coletiva achando que tinha o direito de fazer graça com um cara vitorioso como o Dunga. Por conta disso, Dunga virou o grande desafeto da imprensa marrom, verde e amarela.

Eu não chamaria Kaká, o extremista religioso, para a seleção. Mas eu não sou o treinador. Não fiz absolutamente nada na minha vida inteira que pudesse me dar condições de sequer pensar em ser treinador da seleção. Então, mesmo não concordando, defendo até a morte o direito de Dunga escalar quem quiser. Ele é o treinador e acabou a conversa. Quem não gosta que dê um jeito de assumir o cargo.

Piadinha para descontrair: sabe qual a diferença entre um deus e um jornalista? Um deus não pensa que é jornalista.

Recebi email de pessoas conhecidas divulgando o "Dia sem Globo". Vou dizer, de maneira simples, o que penso sobre isso.

Eu QUASE NUNCA assisto à Globo. Nas pouquíssimas vezes em que assisto televisão, só ligo nesse canal no momento em que começa uma corrida de fórmula 1 e desligo no momento exato em que termina, sem ao menos ver o pódio. Futebol, tem a Band pra assistir.

Não entendo como pessoas que, como eu, pensam que pensam, podem perder seu tempo assistindo a uma novela.

Aliás, televisão, no geral, é uma perda de tempo monumental, quase um desaforo para com a vida.

Portanto, conhecidos (muitos) e amigos (poucos), fiquem tranquilos. Estou com o Dunga e não abro. Globo, nem pensar.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

É bom demais pra ser verdade - II

Saiu na página 41 de Zero Hora dessa quinta-feira, 17 de junho de 2010, uma pequena notícia sobre uma idéia do bilionário Bill Gates. Durante um jantar com o também bilionário Warren Buffett ambos tiveram a idéia de doar cinquenta por cento de suas fortunas para obras de caridade. E não ficaram só nisso: propuseram-se ainda a tentar convencer os outros bilionários espalhados pelo mundo, entre eles o brasileiro Eike Batista, a também doarem a metade de suas fortunas.

Eu tenho dois sentimentos sobre isso: primeiro, não acredito que ocorra. Quem quer fazer, faz, e não fica dizendo vou fazer, olha que eu faço, como quem ameaça. O segundo sentimento é: que bom que fosse verdade.

Como tudo é possível - mesmo o que parece impossível - resolvi fazer a soma de todas as maiores dez fortunas e ver quanto representaria a metade desse valor. Foi então que tive a certeza: não tem a menor chance de acontecer.

O valor total das dez maiores fortunas é de 342 bilhões de dólares. Divida isso por 2 e teremos o valor da doação: 171 bilhões de dólares.

Ou seja, 1 7 1 (thanks, Tarciso).

quarta-feira, 17 de março de 2010

Tudo ao mesmo tempo agora

Quem me conhece pelo meu trabalho atual e lê meu perfil no blog não entende nada. Afinal, sou um massoterapeuta ou um técnico em informática? Na verdade, sou as duas coisas.

Em outubro de 94 comecei o trabalho com a informática. Lá se vão quase 16 anos.

Em janeiro de 99 fui tratar minha coluna, completamente destruída pelos dias inteiros em frente aos micros, mais o joelho esquerdo que teimava em não dobrar. Depois de passar por dois picaretas com diploma de ortopedista, indicaram-me o Julio Sosa, massoterapeuta e quiroprático, também professor das duas matérias. Depois de 24 sessões finalmente voltei a dormir (eu acordava depois de duas horas com dores horríveis) e voltei a pedalar na beira do gasômetro. Os dois ortopedistas tinham me sugerido vender a bike e passar o resto da vida fazendo infiltração no joelho esquerdo que eu mal conseguia dobrar. E diziam que a dor nas costas era psicológica! Ainda bem que desconfiei dos diagnósticos e não fiz nada do que me sugeriram.

Me apaixonei pelo trabalho de massoterapia e fiz cursos com o Julio, de massagem e de quiropraxia. De 1999 a 2002 fiquei envolvido com as duas profissões ao mesmo tempo. Aí, minha vida deu uma guinada radical em direção à informática.

Abri uma empresa em sociedade com um cara que hoje é meu amigo: Guilherme. Em 2006, depois de três anos, completamente estressado de tanto trabalho, todos os dias até meia noite, incluindo finais de semana e feriados, as dores voltando com tudo, o braço esquerdo me impedindo de dirigir (um dos meus poucos prazeres), enfim, cheguei no limite físico e caí de cama por uma semana. Emagreci 5 quilos. Podia ter ficado rico vendendo a fórmula! Imagina emagrecer 20 quilos por mês!

Em agosto de 2006 fechamos a empresa. Guilherme voltou a dar aulas de boxe e a pedalar. Enquanto tivemos a empresa ele andava de moto para cima e para baixo. Eu separei uma grana e fui estudar de novo, na mesma escola do Julio, a Shantala.

Logo estava de monitor nas turmas e acabei dando aulas. Reescrevi as apostilas dos cursos de massagem e de quiropraxia, fiz o site da escola e comecei a escrever textos sobre os mais variados assuntos. No site, ainda tem dois textos meus, um sobre consumo de água e outro sobre alongamentos.

Mesmo durante esse período, nunca parei com a informática, um vício de mais de vinte anos. Clientes fiéis continuavam me procurando para dar um jeito em seus micros.

Mas naquela época parecia que eu iria me aprofundar de vez no estudo do corpo humano. Era impressionante o tanto que eu estudava. Comprei livros caros e comecei a ler como se fossem histórias em quadrinhos. Cheguei a fazer o vestibular de medicina na UFRGS apenas para sentir a vibe. Entre 4685 candidatos fiquei na posição 2300 mais ou menos. Isso sem abrir um único livro ou apostila com qualquer assunto sobre vestibular.

Quando tudo parecia perfeito, me incomodei seriamente com coisas que ouvi da proprietária da escola e caí fora imediatamente. Na mesma semana, no final do ano de 2007, lá estava eu novamente, completamente mergulhado em placas-mãe, discos rígidos, fontes e pentes de memória...

Em 02 de março de 2010 fez um ano que estou numa empresa de softwares, dando atendimento aos clientes. Há muito tempo eu não trabalhava de empregado e ainda estou me acostumando com a idéia. Meu patrão não é exatamente um bom líder de equipe. É do tipo que "esquece" coisas combinadas, principalmente coisas que me beneficiariam. Isso é um tremendo desestímulo.

À noite e nos finais de semana sigo atendendo aos meus clientes particulares. Tem gente que está comigo há dez anos. São pessoas que confiam cegamente seus micros às minhas mãos.


Resumindo:
eu gosto das duas profissões e faço bem qualquer uma das duas. São duas sensações parecidas e diferentes: tirar uma dor de alguém, colocar uma coluna no seu devido alinhamento, ver o alívio estampado na face da pessoa ao sair da mesa de massagem. Por outro lado, ver um micro voltar a funcionar quase como novo, caçar e eliminar vírus, configurar novas versões de velhos programas. É tudo muito bom.

Mas, meu plano para 2010, antes que o ano acabe, é simples: ou eu volto a ser meu próprio patrão ou consigo um emprego MAIS interessante. Eu não nasci para ser empregado de patrão burro e teimoso. Fico exasperado com a burrice alheia, mais ainda quando o sujeito decide coisas que EU tenho que por em prática.

Se alguém tiver alguma boa idéia, aceito de bom grado.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Vivo - Mais ou Menos - Vivo

Ontem assisti a um filme de terror. Mas eu nem sabia que era de terror, antes de assisti-lo. E fiquei, depois do filme, como há muito tempo eu não ficava: em choque.

O filme é A Estrada e o tema é puro terror psicológico. O menino que interpreta o filho é genial e Viggo Mortensen, o pai, finalmente mostrou que sabe interpretar, depois de suas caras inexpressivas em Senhor dos Anéis e Mar de Fogo. E a história deu medo, incomodou, me fez ficar remexendo no sofá, pensando, que droga, alguém tire esse garoto dessa situação, alguém ajude esse pai, e pior, o que eu faria no lugar deles...

Pensar que aquilo realmente pode acontecer um dia foi terrível. E o final, em que o texto dos personagens diz uma coisa, mas suas expressões faciais dizem outra, é de pensar seriamente no que diz o personagem de Robert Duvall, lá pelo meio do filme: "num mundo como esse, morrer seria um luxo".

Como no filme, como todos os personagens, eu estou mais ou menos vivo. Levei mais de um ano para me recuperar de uma depressão, doença que eu considerava pura frescura, coisa de viadinho mesmo. Tive que engolir minhas próprias palavras. Todas as dores, todos os desânimos, todos os cansaços, com exceção da dor de coluna, velha conhecida, enfim, era tudo emocional. Todos os meus órgãos estavam funcionando bem. O problema era de cabeça mesmo.

Mesmo tendo passado o pior da depressão, ainda não me sinto inteiro, pois há quase um ano estou trabalhando em algo que não quero, mas preciso.

Bem, cá estou eu novamente. Dia 1º de janeiro o blog fez 7 anos. Ainda me pergunto por que faço isso. Por que, volta e meia, volto a escrever.

Deve ser um jeito de ficar um pouco mais vivo do que morto. Então, eu olho no espelho e pergunto, como faria o menino se me encontrasse naquela estrada perdida daquele fim de mundo: "você tem a chama?"..........................................