quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Por uma vida mais simples


Ser ecológico não é fácil, mas também não é impossível. Eu venho praticando há muitos anos e algumas coisas tornaram-se rotineiras. Resolvi fazer uma lista de todas as ações que pratico, algumas, com certeza, estranhas para quem mora em apartamento, na esperança de que sirvam de exemplo para alguém. Não usei uma ordem específica ou pré-determinada. Apenas escrevi o que me veio à cabeça.

1. Separar o lixo. Eu faço isso há mais de dez anos e não me passa mais pela cabeça a possibilidade de não fazê-lo. Tornou-se parte da rotina.

2. Economizar água. Essa é bem mais recente. Desde que comecei a gerenciar o condomínio há dois anos, percebi a diferença que pode fazer qualquer tipo de economia. E manutenção também é muito importante. Um vazamento apenas pode comprometer todo um orçamento (sempre apertado) e muita água boa é jogada fora. Água é um bem precioso. Ou você não percebe isso quando está com sede ou necessitando de um banho?

3. Na linha da economia de água, aprendi a usar a torneira aberta com menos da metade da vazão. Várias coisas são possíveis de se lavar, inclusive rosto e mãos, com bem pouca água. O problema não está na água que você coleta com as mãos e sim na água que vai fora enquanto você está esfregando as mãos ou o rosto.

4. Diminuir a quantidade de sabão em tudo, inclusive no banho. A menos que a louça esteja muito engordurada, uma pitada de detergente na esponja é suficiente para limpá-la. Aprendi com o Guilherme a diluir o detergente em água e usá-lo com um vaporizador. Muito econômico. Dependendo do que for lavar, nem precisa molhar a louça antes. Limpar as roupas também depende de pouco sabão. Se você não trabalha na roça ou na construção civil, não tem porque encher a máquina de espuma. O que limpa, de fato, é a fricção, não a quantidade de sabão. A minha roupa sai limpa e com cheiro de tecido, não de sabão, por mais perfumado que esse seja. Detalhe importante: não uso amaciante. A resina usada nele para "amaciar" as roupas gruda-se em tudo, emporcalha os cantos da máquina de lavar e não permite aproveitamento da água que sai da máquina.

5. Tempo do banho. Eu tenho uma técnica infalível. Ligo o chuveiro e molho todo o corpo. Desligo e passo a me ensaboar. Faço todo o processo de ensaboamento e esfregação com o chuveiro desligado. Não gasto sabão além do realmente necessário. O tempo de luz e água economizados pode compensar um tempinho a mais só curtindo a água, no final do banho. E esse tempinho no final pode ser muito relaxante. E o que te relaxa te deixa em melhor sintonia com o mundo. E isso tende a ser ecológico, por extensão. Uma pessoa relaxada não come sem necessidade, não compra por impulso, etc, etc, etc. Ah, além disso, como alguém consegue limpar-se se passa o sabão embaixo da água?? A água consome o sabão antes que surta efeito sobre a pele!!

6. Lixo orgânico. Essa normalmente causa espanto. Há quase dois anos eu não preciso de coleta de lixo orgânico. Todo o lixo produzido na cozinha vai para a sacada e vira adubo. Eu tenho dois pés de mamão, um pé de amora, um pé de maracujá, mirra, guaco e algumas plantas ornamentais plantadas. Há pouco tempo colhi 14 pequenos mamões. No mesmo local descarto toda a poeira da varrição da casa e toda caliça gerada pelas minhas pequenas obras. Vivo consertando coisas, quebrando uma parede aqui, lixando outra ali. Agora mesmo estou (pessoalmente) reformando minha sala. Todo o lixo gerado vai pra sacada. No caso da caliça eu quebro tudo com um martelo até que vire pó. Esse pó incorpora-se sem dificuldade nas composteiras, uma de cada lado da sacada.

7. Areia dos gatos. Essa eu nunca vi outra pessoa fazendo. Eu tenho na sacada duas caixas grandes de madeira, onde deposito a areia dos gatos saturada de xixi. As fezes deles são descartadas no vaso sanitário. Essa areia saturada fica pegando sol e chuva durante bastante tempo até que seja "lavada". Depois desse tempo eu a espalho e deixo pegando sol por uns dois dias. Depois de bem seca, é peneirada e guardada em bombonas de 5 litros de água mineral. A peneira é feita de potes de sorvete furados com um ferro de solda, ou seja, material reciclado, como as bombonas. As bandejas onde a areia seca, são antigas bandejas de xixi, já descartadas por começarem a ressecar e quebrar. Pelas minhas contas, nos últimos quatro anos, deixei de comprar em torno de 1000 quilos de areia nova. Isso mesmo: uma tonelada! Em termos monetários, isso significou uma economia de R$ 1.250,00. Pra completar, não descartei na natureza essa mesma tonelada de areia. Até porque, essa areia não é areia. É argila. Argila agrupada em grumos bem secos. Quando molhada e amassada pode virar uma lama extremamente pegajosa. Imagina isso tudo somado ao xixi e cocô dos gatos que as pessoas descartam junto! Credo!

8. Aproveitamento de água da máquina de lavar. A última água que sai da máquina, praticamente livre de sabão, principalmente reduzindo a quantidade colocada na máquina, eu guardo em garrafas de água mineral de dois litros e uso para regar tudo que está na sacada: composteira, plantas e caixa de areia durante a reciclagem. Essa mesma água também serve para pequenas limpezas, como do próprio piso da sacada, por exemplo, ou para lavar ferramentas.

9. Aproveitamento de água da cozinha. Eu adoro feijão. Mas, quando o feijão termina, a panela de pressão em que foi feito está tomada de uma camada seca e precisa ficar de molho antes de lavar, cheia até a borda. São 4,2 litros de água potável! A água que amaciou a sujeira da panela eu não jogo na pia. Jogo-a diretamente sobre a composteira ou em alguma planta maior, das que consomem muita água. Toda a água usada nos molhos pré-lavagem pode ser agrupada num balde e usada para a rega. A terra se responsabiliza por incorporar os resíduos orgânicos soltos na água e você não corre o risco de entupir os encanamentos. Encanamentos funcionando bem geram economia no consumo de mão-de-obra, além de evitar o stress com contratação de mão-de-obra de baixa qualidade. Lembra do item 5? Evitar stress é ecológico.

10. Lavagem de roupas. Exemplo prático: como trabalho em casa, eu levanto e visto uma camiseta velha (as melhores de usar), uma bermuda e um chinelo. Se um cliente me liga para trazer um micro, mudo a roupa para recebê-lo: calça, camiseta polo e tênis. Assim que ele se vai, volto à vestimenta caseira. Não levo aquela roupa usada por pouco tempo para a lavagem. Não deu tempo de sujar. Ela pode ser usada novamente para ir à lotérica pagar contas ou para ir ao Bourbon fazer minhas compras. Resumindo: não lave o que não precisa ser lavado. Você economiza água, energia elétrica, tempo e a própria roupa. Na maioria dos casos o que detona a roupa não é o uso e sim a lavagem. Lavagem à máquina então, detona a roupa rapidamente. Detalhe: lavar roupa (calcinha ou cueca) durante o banho não é exatamente econômico. Se você usa chuveiro elétrico, são 3 litros de água por minuto. Se usa ducha com aquecedor a coisa piora muito: 8 litros por minuto! Faça as contas de quanto tempo gasta nessa operação e veja se vale a pena.

11. Uso do balde. Para lavar pouca coisa ou roupas pequenas como camisetas, meias e cuecas, não uso mais a máquina. Com quatro meios baldes (28 litros de água, considerando um balde grande, com capacidade de 14 litros), um para a lavagem e três para o enxágue, lavei três camisetas, duas cuecas e um calção de fibra sintética. A mesma roupa na máquina consumiria 170 litros de água, sem contar a energia elétrica. Além disso, usei no balde apenas um quinto do sabão em pó que normalmente se recomenda usar na máquina.

12. Reaproveitamento de qualquer coisa. Tudo que eu tenho e por algum motivo considero inútil (e isso é bem fácil de acontecer) eu passo adiante por doação. Nunca vendo. Se não serve mais para mim, com certeza serve para outra pessoa com menor poder aquisitivo. A idéia de dar ao invés de vender baseia-se num princípio ecológico. Se não há valores envolvidos, a emissão de carbono daquele ato é mínima. A pessoa que recebe pode direcionar aquele recurso para outra situação, como um curso profissionalizante para a filha, caso do porteiro aqui do prédio, para quem já doei tv, geladeira, fogão e outras coisas que nem lembro. Doar é um ato ecológico.

13. Energia elétrica. Assumir a gerência do condomínio também me ensinou essa. Quando comecei, em dezembro de 2008, há exatos dois anos atrás, a conta com a CEEE era em torno de R$ 400,00. Esse mês paguei R$ 271,00. A diferença de R$ 130,00 representa o valor gasto mensalmente em passagens pelo nosso porteiro. Por incrível que pareça, quando assumi, mesmo morando a mais de quatro quilômetros do trabalho, ele não recebia vale-transporte. Consegui toda essa economia com um ato simples: todas as noites eu faço uma ronda no prédio e desligo todas as luzes que os condôminos vão deixando ligadas. Ainda não sobrou dinheiro para colocar sensores de presença, mas é um exercício interessante andar de escada por sete andares. Nem preciso dizer que também diminuiu a troca de lâmpadas. Menos tempo ligadas, maior vida útil. Para fazer essas rondas, comprei uma lanterna de leds, muito econômica e com carregador embutido. Não necessita de pilhas. Cada carga dura duas semanas, em média. Tem a opção de usar dez ou quinze leds ligados, mas sempre uso com dez. Em casa, nada de luzes ligadas onde não tem alguém fazendo algo. Se o micro fica ligado enquanto vou fazer outra coisa, desligo monitor e caixas de som. Na madrugada, para ir ao banheiro, por exemplo, a mesma lanterna de leds mostrou-se muito eficiente.

14. Lavagem do carro. Nesse domingo fui visitar amigos na Zona Sul. O carro estava coberto de poeira, pois nossa garagem no segundo andar é aberta em toda a extensão nos fundos, protegida por uma grade. O piso é ruim, de cimento, ou seja, uma fábrica de poeira. Mesmo assim, com apenas seis garrafas de dois litros de água consegui lavar o carro. Ou seja, gastei apenas 12 litros de água para lavar o carro todo. Mais econômico que isso, só usando uma flanela para tirar o pó. Hehehehe.

15. Uso do carro. Tento usar cada vez menos o carro. Além da questão de saúde física, meu carro é velho e pouco econômico. Tenho que trocar o carburador e isso representaria um gasto de mil reais, mais ou menos. A opção mais viável é usar pouco, somente quando for realmente necessário.

16. Economia. Essa é para finalizar. Percebeu como todo ato ecológico é também um ato de economia? Quando você economiza e não gasta à-toa está sendo ecológico. Sendo ecológico você economiza. Economizando, deixando de ser consumista, você se torna uma pessoa mais simples. E pessoas simples são mais agradáveis de se conviver, geram menos stress a sua volta, vivem (bem) com menos recursos. Alguém consegue ver alguma desvantagem nesse processo?

Isso é o que eu faço, o que eu pratico. E você, está fazendo o que para amenizar os problemas do planeta?

1 Deixe seu comentário::

tarciso disse...

Invejável esse teu comportamento ecologicamente super correto... Tudo o que faço é economizar água e energia elétrica, além de ter o hábito de comer pouco e sem desperdícios (não tolero desperdício, principalmente de comida). Mas ainda quero melhorar minha performance ecológica também!