segunda-feira, 11 de agosto de 2008

É bom demais pra ser verdade

No Artigo 5º da Constituição Brasileira está escrito: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]".

A partir desse ponto seguem-se 78 Incisos, um tanto de alíneas e alguns parágrafos que esmiúçam em detalhes um verdadeiro rosário de direitos. Conhecendo-se a realidade em que vivemos, fica a impressão de uma peça de ficção, que serve a um mundo de fantasia. Quem já leu, sabe do que estou falando.

Desde que comecei a ler a Constituição não me sai da cabeça a letra de uma música do Engenheiros do Hawai: "Todos iguais, todos iguais, mas uns mais iguais que os outros". A mesma letra diz: "me espanta que tanta gente sinta a mesma indiferença".

A mim, nada mais espanta.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

A vida é melhor com companhia

Eu me criei na companhia de animais. Tirando meu irmão mais velho, perto do qual o jogador Edmundo é uma lady, eu sempre convivi com bichos desde quando consigo me lembrar. Minha mãe era colona, dessas que vêm para a cidade grande achando que poderá ter uma vida melhor. Sendo assim, a gente tinha em casa, uma pequena casa de madeira num grande terreno em Gravataí, bicho de tudo que é tipo. Criávamos porcos, galinhas, patos, marrecos, coelhos, caturritas, cachorros e gatos. Eu acompanhei e ajudei no parto de muitos desses bichos. Se tivesse sido estimulado a estudar poderia ter sido um excelente veterinário. Todos eles conviviam harmoniosamente no meio de uma grande horta onde minha mãe plantava de tudo. Me criei comendo muita coisa direto do pé, tipo espinafre, que só fui aprender a comer cozido quando fui morar em São Paulo, com quase vinte anos de idade.

Uma coisa curiosa é que eu já não gostava de carne desde muito pequeno. Era uma briga quando tinha matança de porcos ou quando minha mãe usava economias feitas a muito custo para comprar carne vermelha e fazer um churrasco. Eu só queria comer as saladas de batata (adorava!), alface, cebola e tomate. Aí vinha aquela conversa mole de que eu cresceria fraco se não comesse carne, conversinha que jamais me convencia, e depois vinham as ameaças, "come senão apanha", e eu acabava comendo algum pedaço, mas aquilo me descia quadrado e eu só pensava "quando ficar grande não vou comer carne, não vou comer criaturas que são meus amigos".

Sim, eu considerava os bichos que criávamos como amigos. Tinha um pouco a ver com o fato de ser o caçula e meio sozinho. Minha irmã, quatro anos mais velha, achava uma bobagem as brincadeiras que eu mais gostava, tipo subir em árvores, nos galhos mais altos, e ficar me balançando, imaginando que estava voando. Meu irmão, nove anos mais velho, já era escroto desde cedo e eu só queria distância dele. Acabava conversando com os bichos mesmo. E sofria muito quando via que alguns deles iam parar nas panelas de casa.

Uma vez, eu devia ter uns nove anos, um dos porcos chegou no ponto de carnear. Minha mãe chamou o matador da vila, famoso por matar os porcos com uma única estocada no coração. Acontece que naquele dia o cara chegou bêbado para fazer seu "serviço". Os vizinhos reunidos — era uma verdadeira festa, muitos ganhavam torresmo e banha — e o cara, trocando as pernas e enrolando a língua, pediu que segurassem o bicho. Com a vítima imobilizada, deu a primeira estocada. O bicho berrou de um jeito que só um porco consegue fazer e seguiu de pé. O desgraçado tinha errado o coração! Todos se apavoraram. Eu espiava de uma distância segura, com um nó na garganta. Então ele deu a segunda estocada: pra desespero geral, errou de novo. O sangue começou a esguichar e começou a molhar as pessoas que seguravam o porco. O animal começava a gritar cada vez mais. Outros correram para ajudar a segurar o bicho que ganhava uma força que só quem sabe que está sendo assassinado pode conseguir. Depois da terceira estocada errada, ele perguntou para minha mãe se tinha um machado. Não me lembro o que ela respondeu, mas lembro de vê-lo já com o machado na mão e gritando "segura o bicho" e logo em seguida o som abafado do crânio rachando...

Difícil descrever a cena: o bicho caído, esvaído em sangue, o crânio afundado, as pessoas em volta, encharcadas de sangue comemorando como se fosse um gol da seleção de 70, naqueles tempos de "Brasil, ame-o ou deixe-o". Ainda lembro de minha mãe lamentando o sangue desperdiçado, que poderia ter sido aproveitado para fazer morcilha.

Daquele dia em diante, com ou sem surra, jamais coloquei qualquer pedaço de carne de porco na boca. Também jamais maltratei um animal. Já adulto descobri que preferia os gatos aos cachorros, apesar de, em geral, os cachorros simpatizarem comigo. Me agrada a independência dos felinos. Não gosto de gente dependente nem grudenta. Acredito que os relacionamentos, por mais íntimos que sejam, também são feitos de silêncios e de distâncias. Um gato sabe muito bem como lidar com isso.

Atualmente tenho seis gatos em casa. Eram apenas dois, o Dudú e a Rita. Há um ano a Ritinha morreu por causa de um tumor no pulmão. Na mesma época encontrei a Nina. Eu saí para ir ao mercadinho aqui perto e encontrei-a comendo lixo na rua lateral. Era pura pele e osso e orelhas, orelhas enormes em relação à pequenez dela. Parei e fiquei observando-a. Ela me olhou, deu um miadinho e seguiu comendo restos de um peixe. Então, disse-lhe que se ela estivesse ali quando voltasse a levaria para casa. Na volta, bastou chamá-la e ela veio como se já fôssemos conhecidos. Peguei-a com a mão que estava livre e ela se aninhou contra meu peito, sem nenhuma resistência, sem nenhuma reclamação. Levei quase uma semana limpando o pêlo dela que caía ao menor toque. Não podia dar-lhe banho pois era época de muito frio. Com um paninho molhado, ia limpando-a e logo em seguida a secava com algum pano seco. Ela comia desesperadamente. De tão pequena, imaginei que tivesse um ou dois meses de vida. Aos poucos foi tornando-se uma gatinha muito bonitinha.

Eu já me preparava para castrá-la quando meus amigos chamaram minha atenção para a barriguinha exagerada dela. Para mim, era só a barriga de uma gatinha faminta, que passara muito tempo sem comer direito. Doce ilusão: ela estava grávida! Sem entender como era possível, sendo tão novinha, levei-a até a Tainá, um amor de veterinária, daquelas pessoas que amam o que fazem. Aí, a grande surpresa: ela tinha três ou quatro anos! Era pequena por ser desnutrida. Provavelmente nunca tinha se alimentado bem. Namorou o Dudú descaradamente, debaixo do meu nariz, hehehehe. Desse namoro nasceram a Guida, apelido dado por uma paciente minha porque eu a chamava de desmilinguida; a Duda, versão feminina do pai, quase um clone; a Tim, diminutivo de Tinhosa, a gatinha que abre portas, sempre puxa as brincadeiras e é a cara da mãe; e a Nega, a única que nasceu com a pelagem de uma única cor, um cinza chumbo muito sedoso e brilhante e que é a mais carinhosa de todas: adora um colo e vive subindo nos meus ombros quando vou fazer comida.

Como vocês podem ver, bicho é o que não falta em minha vida. Mas, se você mora em Porto Alegre ou arredores e tem vontade de ter um bichinho, deve conhecer o PROJETO BICHO DE RUA. Mesmo aquele que não pode levar o bicho para casa por falta de espaço ou condições de cuidá-lo, pode virar padrinho de algum bichinho. Vale a pena conhecer o projeto. A dica, recebi da minha amiga virtual Simone, que acabou de adotar uma gatinha com a ajuda do site.

Uma última coisa: se você gosta de animais como eu gosto, então, com certeza, não se preocupa com a raça. Bicho é bicho, não importa a raça.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Assertos e (des)Acertos

REDAÇÃO OFICIAL

1.
Vossa Excelência!
Vossa Santidade!
Vossa Eminência!
Quanto mais tarado ou safado,
mais bem tratado.
Haja paciência!

2.
O pai-de-santo
faz o requerimento
mas nem sempre
o santo despacha.

3.
Ao analista
é solicitado o parecer.
Ao analista
parece estarem todos loucos.

Poema desaforado

Dizem, com desprezo,

que não tenho
nenhuma profissão decente.
Na verdade — e quase ninguém sabe —
sou um procurador de justiça.
O problema, meu bem,
é que quase nunca a encontro.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Cada um vê o que seus limitados olhos permitem

Aulas em geral podem render boas conversas se o professor não for dos melhores. A historieta abaixo me foi contada pela Ana Carolina, uma mulher que, não bastasse ser inteligente, é bonita. Ou seja, do tipo que abusa. Como dizia a gurizada do condomínio no Ypú, onde morei, quando passava alguma gata irresistível: "Pô, não sabe brincar!"

Um casal tomava seu café juntos, todo santo dia, durante anos. A mulher, pessoa de poucos assuntos, sempre comentava ao ver a vizinha estendendo a roupa no varal:
_ Nossa, mas essa mulher não sabe mesmo lavar roupa! Sempre cheia de manchas!
A mesma cena repetiu-se durante muito tempo.
Um dia, a mulher diz com cara de espanto:
_ Meu deus! Finalmente uma roupa bem lavada!
O marido levanta os olhos do jornal, suspira, e num esforço de quem há muito tempo não vê motivos para falar, diz, pausadamente:
_ A nossa vizinha é muito caprichosa e sempre lavou suas roupas muito bem. A diferença é que, ontem, finalmente, eu resolvi limpar a vidraça...

Ou como diz a Ana, encerrando o assunto: "Não existem fatos: existem diferentes versões de um mesmo fato. Às pessoas desprovidas de argumentação resta a barbárie."

sábado, 12 de julho de 2008

Faça um upgrade nas suas idéias

Deixando de lado o tempo em que eu usava o micro como diversão, com meu querido MSX, da Gradiente, eu comecei a trabalhar com informática há 14 anos. Comecei bem, para a época: um 486 DX4 100, o último modelo de 486 lançado antes de surgir o Pentium. Ele dava conta de todas as tarefas em Word, Excel, Page Maker e Corel Draw e ainda servia para jogos. Quando ouço alguém falando sobre a "lentidão" dos micros antigos logo penso que não é bem assim. Meu micro atual, com uma placa mãe Gigabyte, com placa de vídeo offboard de 128 MB, 1 giga de memória DDR2, leva praticamente o mesmo tempo para processar um arquivo do Corel 12 (já existe a versão 14) que aquele 486 levava para processar um arquivo do Corel 4. Por que então as pessoas acreditam piamente que os micros antigos eram mais lentos? Bem, se colocar um 486 ao lado do meu Sempron, sim, o 486 será mais lento. Mas é assim que se deve compará-los? Por tarefa solicitada fica bem mais fácil: compara-se o tempo de processamento de um arquivo feito por um programa da época (no 486) a um arquivo de um programa atual (no sempron, por exemplo). Os micros ficaram mais rápidos, mas os sistemas operacionais e os aplicativos ficaram mais pesados e precisam de cada vez mais memória e capacidade de processamento.

É claro que, hoje em dia, existem facilidades em relação àquele tempo. Um kit multimídia (cd-rom, placa e caixas de som) era muito caro, não vinha já instalado no micro como hoje em dia, então o nosso não tinha. Quando conheci o DOOM (jogo de tiro em primeira pessoa) o som do jogo era reproduzido no speaker, um alto-falante de 4 cm de diâmetro, semelhante aos que eram usados em radinhos de pilha. Tomei um susto na primeira vez em que ouvi o som do jogo em uma caixa de som. Risos.

Desde o primeiro Pentium surgiram pelo menos mais umas seis gerações de processadores. De uns anos para cá, a indústria descobriu um novo filão muito lucrativo: além de lançar novidades o tempo todo — impossível acompanhar — também tornou incompatível qualquer possibilidade de upgrade simples, ou seja, sem uma troca completa do núcleo principal do computador. Isso significa que se você resolver ou precisar trocar o processador vai ter que trocar a placa mãe e a memória também. Dependendo do caso, se tiver uma placa de vídeo AGP, é uma pena, mas o slot agora é para placas de vídeo PCI Express. E nem pense em vender a placa para tentar diminuir o prejuízo: você pagou, vamos dizer, de 150 a 200 reais pela placa de vídeo? Bem, pode vendê-la por 15 ou 20 reais. Virou sucata em dois anos mais ou menos. Num caso desses aconselho a doação. Sempre é útil para alguém com menos recursos e, no fim, não vai fazer diferença pro seu bolso.

Outro caso interessante é o dos monitores. Não vi ainda nenhum monitor LCD (esses fininhos) com a mesma qualidade de imagem de um CRT (os grandes). No entanto, as pessoas compram porque é mais bonito e porque ocupam menos espaço. Desde quando eu me lembro, monitores nunca foram problema em função de espaço. As mesas de computador sempre previram a sua presença. Alguns argumentam que se tem cada vez menos espaço. Pode ser, mas eu não tenho essa mesma percepção. Acho que não passa de uma boa desculpa que se arranjou para justificar a compra. Eu mesmo tenho um monitor de 17 da Samsung que funciona perfeitamente bem. Não existe o menor motivo que seja para eu comprar um LCD, sem contar que perderia em qualidade de imagem. Só me dói saber que, no dia em que este aqui queimar, vou ter que comprar um LCD pelo simples fato de que os CRT terão desaparecido.

Quando eu ainda trabalhava com informática, um casal de clientes comprou um micro pra seus dois filhos adolescentes. Na época, o valor final ficou em quase 5 mil reais (meados de 2006). E para quê? Para um deles jogar Need for Speed (eu jogo muito bem no meu sempron) e para o outro encher a máquina de vírus navegando em sites pornográficos. Belo investimento! Mas — justiça seja feita — eles usam o Word e a Internet para pesquisa! Ah, bom, sendo assim...

Isso não é muito diferente das mulheres que enchem os armários com roupas e sapatos que talvez nunca sejam usados. Dizem até que é doença. Eu acredito que é falta de um sonoro NÃO na hora de educar as crias. O fato é que as pessoas não se dão conta de uma coisinha simples: as indústrias produzem coisas cada vez menos duráveis e a publicidade induz ao erro do consumo pelo consumo. Ora, devemos consumir unicamente o que necessitamos e não aquilo de que nos convencem que precisamos! A idéia de trocar algo que ainda está funcionando por outro "do momento" é simplesmente estúpida. O dinheiro gasto com tanta bobagem poderia ser gasto em aquisição de cultura e conhecimento, por exemplo.

O vídeo abaixo (dica do Guilherme) explica de forma didática o problema que gera o consumo desmedido. Assista e pense nisso.

domingo, 6 de julho de 2008

Exatos 48 segundos de silêncio

Foi numa madrugada, umas duas semanas atrás. A grande avenida na zona norte, na qual eu moro, sempre em constante movimento, 24 horas por dia, de repente caiu num silêncio absurdo. Eram quase três horas da madrugada, e eu estava cronometrando o tempo que levava para escanear uma página de texto que depois seria lida por um programa OCR. De repente, de forma estrondosa, tudo silenciou. Olhei pela janela e nenhum veículo passava pela avenida. Nenhum trabalhador incauto voltando a pé, nenhum bêbado discursando para os postes, nenhuma garota de programa ou travesti oferecendo explicitamente seus serviços. Nada. Chegava a doer nos ouvidos. Nenhum som a não ser do cooler da CPU e de minha respiração. Olhei de volta para o relógio e fiquei acompanhando o deslocamento digital dos segundos. Quando já estava em 30 segundos eu comecei a achar que algo estava errado. Quando chegou aos 40 me alarmei. E quando já começava a conjeturar, exatamente aos 48 segundos, tudo voltou ao normal. Não demoraram outros 10 segundos para alguém cantar pneus na sinaleira da esquina. O mundo não estava acabando. Ufa!

Voltemos no tempo. Eu tinha pouco mais de 20 anos, estava tentando conhecer alguma religião que me oferecesse alguma resposta razoável, e assim cheguei a um centro espírita. Nenhum ensinamento que tenha vindo dali chegou a me convencer de qualquer coisa, mas jamais esqueci a frase na parede em frente às cadeiras em que esperávamos o atendimento individual: "Se as palavras são como prata, o silêncio vale ouro." Entre dizer bobagens que possam causar problemas e calar-se, escolha sempre a segunda opção.

Sempre gostei de momentos de silêncio, mesmo na adolescência, quando passava horas ouvindo Pink Floyd ou Queen ou Jethro Tull em um volume que enlouquecia minha progenitora. O problema é que ela não gostava de silêncio. Quando queria meditar, tinha que me esconder no fundo do quintal, em cima de alguma árvore ou atrás do canteiro de couve. Era a única maneira de não ficar a mercê da incontrolável papagaice dela.

Há mais de cinco anos saí do silêncio noturno do Jardim Ypú para a algazarra sonora constante dessa avenida. Nas primeiras madrugadas, achei que jamais fosse conseguir dormir. Depois, aos poucos, como quase tudo na vida, fui acostumando. Hoje em dia, meu ouvido já é tão treinado com os barulhos da avenida que eu sei se algo diferente está acontecendo aqui em volta. Só tem, na verdade, um único som que eu não suporto quando chega a noite: o som de telefone tocando. E essa é uma das vantagens de não dormir cedo, nunca antes das duas horas: ninguém me liga depois das dez da noite, mesmo sabendo de meu estranho hábito. Eu prefiro fazer tudo a essa hora: ler, estudar, navegar, escrever, etc. Até trabalhos notadamente diurnos, como a reforma do box do banheiro, mesmo esses eu prefiro fazer à noite.

A edição 167 da TRIP traz uma reportagem sobre o valor do silêncio. Para quem não tem acesso à revista de papel (eu ainda prefiro) o site disponibiliza a matéria na sua íntegra. Você pode ler aqui. O texto "Quanto vale o silêncio?" é uma reflexão muito interessante. São surpreendentes alguns itens abordados pela neurocientista Suzana Herculano-Houzel. O final da matéria é delicioso de ler. O último parágrafo é poesia pura, feita desse material intangível que são as relações humanas.

De minha parte, eu ficaria muito tempo em silêncio se Elis cantasse para mim.


quarta-feira, 2 de julho de 2008

Fritando números

Eu mantenho um blog, com seus altos e baixos, desde 01 de janeiro de 2003. Teve a fase dos textos divertidos, teve a fase das histórias de amor, a fase dos poemas (sim, eu escrevo poemas também!), teve a fase do nada a dizer (mais de uma vez), teve época de 50 visitantes por dia, teve época de 1 visitante por semana, teve a crise por falta de comentários, enfim, teve de tudo um pouco. Quem vir meu perfil terá a informação de que sou membro do Blogger desde maio de 2008. Acontece que eu usei até essa data a identificação Vangelis2003, apesar de sempre ter assinado os posts com meu nome e não com o nick que me identificava no Blogger.

Mudei o nome do blog várias vezes, apesar de
manter o mesmo endereço ao longo dos cinco anos. O primeiro nome foi "Entra quem quer, fica quem gosta." O que mais tempo durou foi "Aos trancos e barrancos" e o último foi "Descontraído" com o sugestivo subtítulo "porque contratura demais pode matar."

Então surgiu a idéia do Neurônio Frito, uma tentativa de exercitar a opção pela crítica a qualquer coisa que me chame a atenção, de uma forma ou de outra. Ainda não atingi o objetivo, mas estou me concentrando para consegui-lo.

O próprio Blogger também evoluiu nesse período, dando possibilidades muito mais interessantes para se fazer um blog de maneira prática, tipo tudo em um. Meus blogs anteriores não tinham sequer a lista dos blogs que eu lia. Nesse tem até vídeo! Nesse meio tempo conheci o Google Analytics, que permite o controle de todo o tráfego no blog. Vamos ver o que aconteceu nesses 37 dias de Neurônio Frito:

Foram 447 visitas feitas por 119 visitantes vindos de 6 países: Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Chile e Argentina. Do Brasil foram 34 cidades, de 15 estados diferentes. Da Alemanha, 1 cidade; dos EUA, 3 cidades; da Espanha, Chile e Argentina, 1 cidade cada. Total de 40 cidades.

Poderia ser melhor, mas está bom para começar. Um dos próximos passos é começar a editar o blog também em inglês, facilitando a leitura de quem vem de longe para ler algo, seja qual for o motivo. Outro plano é manter uma distãncia regular entre um post e outro, tipo, a cada 4 dias, por exemplo. Depois de 5 anos e meio "blogando" acho que é hora de levar mais a sério. Ou parar.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Tocando em frente

"Ando devagar por que já tive pressa e levo este sorriso por que já chorei demais..."

É impressionante o que eu conheço de gente que está aflita com alguma coisa. Meu dois vizinhos, amigos, cada um a seu modo, estão sofrendo: minha vizinha com seu trabalho que virou um estresse diário; meu vizinho por um amor (mal) desfeito. Uma amiga virtual me falava ao MSN sobre uma sacanagem do namorado. A Maristela, blogueira de mão cheia, vivendo um momento complicado com o pai. Estive sexta-feira com uma amiga que tem um filho de dez anos, autista, e a cada dia aumenta seu sofrimento. Eu mesmo tive problemas com meu local de trabalho e agora estou quase matando cachorro a grito.

Eu acho que ninguém sabe a fórmula, mas não custa perguntar: o que fazer numa hora dessas?

O poeta Almir Sater escreveu: penso que viver a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente...

Então é só isso? Isso não parece o roteiro mal escrito de um filme com um péssimo diretor? Sei, sei, reclamar pouco ou nada adianta. Mas será que eu posso mudar de personagem, hein diretor? Diretor? Diretor! Catzo! E não é que o canalha sumiu?

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Não podia ser de outro jeito

Todo mundo já ouviu falar de nomes que condicionam destinos.

Pois aconteceu em Jundiaí, São Paulo, de começar a jorrar sangue humano fresco do piso de uma casa onde vive um casal de idosos. O detalhe está no nome da rua: Antonio Bizarro. Para piorar o condicionamento, o bairro também se chama Bizarro.

Se acha que estou brincando, clique aqui e confira a notícia.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Você é o que você faz, não o que você diz

O vídeo foi gravado durante a ECO 92. Dezesseis anos depois, tudo continua piorando.

Pela estrutura das frases, não acredito que a menina Severn Suzuki (ou o seu pequeno grupo) tenha realmente escrito o texto, mas isso não muda o fato de que ela traz uma verdade inquestionável e, como diria Al Gore, inconveniente. Os adultos aplaudem no final e, até onde se sabe, dezesseis anos depois, foi tudo que fizeram.
A idéia para o post veio do site Inglês Verde e Amarelo, na página da Neusa.


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Como água e vinho

O ser humano tem este estranho poder, o de gostar de coisas ou pessoas completamente distintas, não é mesmo? Isso acontece comigo com certa frequência. Um bom exemplo é o cursinho pré-vestibular que estou fazendo. Às quartas a gente tem aula de redação e de história. A professora Adilse, a calma, alterna com o professor Antonio, o provocador, nas aulas de redação. História fica por conta de Muriel, a louca.
As aulas da Adilse são calmas como um poço sem provocar sono, coisa bem difícil, diga-se de passagem. As aulas da Muriel são como um furacão na cabeça da gente, sem que se perca o fio da meada.
A Adilse tem domínio da aula sem dominar nada nem ninguém. É tão interessante o jeito pelo qual ela apresenta regência verbal, por exemplo, que todos ficam atentos. Ela aprendeu muito com o velho e bom Édison de Oliveira, um dos mais famosos professores de português do nosso estado, que faleceu em março desse ano. Veja matéria aqui.
A Muriel, por sua vez, faz a gente pensar em coisas bem atuais ao mesmo tempo em que nos lança no meio de lutas espartanas, de tragédias gregas, de imperadores romanos. Ela nos faz rir como nenhum outro, com suas mudanças de voz, suas interpretações de personagens, suas opiniões pessoais entremeadas no contexto histórico e nem assim perde o controle da situação. Quando as intervenções dos alunos tendem a se estender (inclusive as minhas) ela corta logo o barato e lá vamos nós de volta ao que, de fato, interessa.
São duas mulheres com as quais eu me impressiono. Eu que gosto de dar aulas, que tenho prazer em ensinar qualquer coisa que eu saiba e que passei 2007 dando aulas no curso de massagem, admiro essa capacidade de manter a turma atenta e interessada no assunto, por mais chato que seja.
Mais que me impressionar, eu gosto das duas, tão diferentes. É importante um aluno gostar do professor. O que aquele professor diz, fica gravado, pode ter certeza. Aliás, a Muriel nem sabe que dei um codinome a ela. Nenhum deles sabe, ainda. Hehehehe. Quem sabe um dia desses eles lêem o blog e descobrem.
Entre tantas profissões legais e pouco valorizadas, com certeza a arte de ensinar merece destaque. Ganham pouco, em geral, e têm muito trabalho fora da sala de aula para poder trazer algo que valha a pena, que realmente interesse aos alunos. Mas o mais admirável neste caso é o fato de que estas duas mulheres, juntamente com todos os outros professores da ONG, são voluntários. Fazer um trabalho bom ganhando pouco não é pra qualquer um. Fazer o mesmo sem ganhar nada, é sei lá, do outro mundo, quem sabe? Não é por nada que ao final de cada aula eu sempre digo um sonoro obrigado a cada um deles. Todos merecem.

domingo, 8 de junho de 2008

Eu não gosto de poesia!

Calma, vou explicar. A enorme maioria dos poemas que já li — e foram muitos — é de uma chatice sufocante. Começa pela escolha das palavras: raramente um poeta usa palavras simples para escrever poesia. Que saco! Eu só admito o uso de um dicionário para poder ler quando o idioma é outro!
Outro problema sério é o tamanho de alguns poemas. Santa misericórdia! Tem cada um que parece 10 num só! A gente vai lendo aquilo, faz uma parada pro lanche, volta, lê mais um pouco, cansa os olhos e os dois neurônios, resolve tirar uma soneca, volta a ler, baba em cima do teclado, e o texto ali, parecendo a maratona de Porto Alegre...
Um terceiro problema são as unanimidades: experimente falar mal de Fernando Pessoa em frente a alguma criatura culta! Você será esbofeteado, provavelmente. Isso, claro, depois de ser tratado como um verme ignorante, onde já se viu! Pois é, mas eu acho a maioria dos poemas de Pessoa um saco! Lá vem porrada! Hehehehe.
Agora, o pior de tudo são os aspirantes a poeta. Ah, pobre ingenuidade esta de quem acredita que falar difícil é bonito e atraente! Chego a ver as criaturas debruçadas sobre dicionários escolhendo as palavras para seus poemas, descontruindo frases inteiras e reposicionando as palavras de um jeito para que fique bem difícil de entender, diferente de tudo aquilo que um ser normal faria... "Invejai, reles mortais!", diria o gênio com um sorriso vitorioso nos lábios.
Outra coisa que me incomoda são certas imagens absurdas criadas pelos poetas. A gente lê a pérola literária e fica pensando: o que este filhodaputa quis dizer com essa coisa toda? Eu costumo fazer o seguinte exercício: pego um desses poemas empavonados* (risos) e reduzo-o até chegar àquilo que acredito que o autor quis dizer. Veja o que fiz com um poema de Neruda.
Os teus pés - Pablo Neruda

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés. (pés separados do corpo?)

Teus pés de osso arqueado, (existe pé de osso reto?)
Teus pequenos pés duros,
Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso (a menos que fosse amputada,
Sobre eles se ergue. não poderia ser de outro modo)

Tua cintura e teus seios, (pronto, cadê os pés?)
A duplicada púrpura
Dos teus mamilos, (oh! ela tem dois!)
A caixa dos teus olhos (caixa? como assim?)
Que há pouco levantaram vôo, (pegaram um avião? criaram asas?)
A larga boca de fruta, (ai, jesus... melhor não comentar esta)
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha. (mulher, torre, não entendi a relação)

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.
Eu acredito, do fundo do meu coração, que o poeta quis dizer o seguinte:

Amo teus pés
Só porque andaram
Sobre a terra,
Até me encontrarem.
Eu não sou podólatra, tampouco romântico, mas acredito que seria uma coisa linda para se dizer a alguém: amo teus pés só porque andaram sobre a terra até me encontrarem.
Esses poetas...
*Empavonado - Segundo o Aurélio, particípio do verbo empavonar, ou seja, cheio de vaidade, inchado, que age como um pavão.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Quem manda aqui, afinal?

No blog da Gisele (link aí ao lado), encontrei um texto onde ela fala sobre um celular novo, com tantas funções que seu único defeito é não limpar o cu sozinho, segundo o genro da moça. Ficou curioso? Clica no link e vai procurar o texto, preguiçoso!

Faz uma semana que meu celular criou vida própria! O horror, o horror! Ele fica ligando pra caixa postal e aquela voz enlatada me dizendo: você possui novas mensagens. E quando penso que vou ouvir o recado, ele desliga e liga de novo! O filhodaputa é sádico! Tipo, "eu deixo você saber que tem mensagens, mas ouvi-las, jamais!"

Resultado: faz uma semana que ele passa a maior parte do tempo desligado. E aí vem a maior surpresa: eu estou a-do-ran-do!

Impressionante, pra alguém que tem celular desde o tempo do primeiro Nokia (depois do batatão da motorola) e dorme com ele, ligado, claro, debaixo do travesseiro! Claro que é uma merda pro meu trabalho. As pessoas não tem como me achar e esta semana eu trabalhei bem menos, óbvio. Mas, que tranquilidade...

Hoje ainda, acredito que troco o infame por um que aja normalmente, ou seja, que ligue apenas quando eu mandar. Vou acabar sentindo saudades desta estranha semana, única nos últimos doze anos.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Prevendo o futuro

Ele ainda não foi declarado oficialmente como candidato democrata. Obviamente, ainda não é o presidente. No entanto, já começou a mostrar as garras, as longas garras do poder. Em nenhum momento falou em diálogo. Falou em evitar a ameaça do Irã, se necessário, usando o poderio militar. Já que o Iraque não mostrou-se um inimigo à altura, o negócio é atacar o Irã, então?

Não adianta ser negro nem tampouco muçulmano. Se o cara é norte-americano é megalomaníaco, com certeza.

Essa conversinha mole de que Israel está em perigo, é um pré-argumento para conseguir apoio do Congresso, na hora da invasão.

Quem está em perigo é quem vive ao redor de Israel! Ah, mas terrorismo disfarçado de operação militar oficial, pode, né?

sábado, 31 de maio de 2008

Apocalipse Now

Na aula de ontem à noite, deixamos os cadernos e apostilas de lado para assistir a uma apresentação sobre a Ong SOS Rim e a um filme sobre aquecimento global, criado pelo Greenpeace.

No primeiro caso ficamos sabendo como foi criada, como funciona e quais os planos futuros da Ong que possibilita a existência de nosso curso pré-vestibular. Além do trabalho hercúleo de seu fundador, que tem o sonho de conscientizar a sociedade sobre a doação de órgãos, devemos destacar o fato de que nossos professores são todos voluntários. O trabalho voluntário é algo admirável e um exemplo a ser seguido por qualquer um.

Já o filme, Mudança de clima, mudança de vidas, produzido pelo Greenpeace, mostra os efeitos do atual comportamento climático no planeta, sobre duas regiões do Brasil, sul e nordeste. Eu já conhecia o vídeo pois veio de brinde quando comprei o dvd do Al Gore, Uma verdade inconveniente. Na época me emocionei ao ver a perda das pessoas. Desta vez não foi diferente. Teve colega que riu quando uma senhora mostrou o local onde teria sido um dia um banheiro e onde restava apenas o vaso sanitário, depois da passagem do Catarina pela costa sul do Brasil. Eu não consigo ver graça nisso. Perder uma casa, em geral construída com sacrifício, é algo terrível. Assista ao vídeo e tire suas próprias conclusões.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Leve guarda-chuva

Lendo o site da folha online, em particular o blog da Adriana Küchler, encontrei o post sobre um vídeo criado por uma rede de notícias argentina, muito legal.

O vídeo está em espanhol, evidente, então fiz minha própria tradução, de ouvido, o que é um perigo, mas enfim, é mais ou menos fácil, então, lá vai:

Leve guarda-chuva

Se você sabe que vai chover, leve guarda-chuva. Se você leva guarda-chuva, não se molha. Se não se molha, não fica resfriado. Se você não fica resfriado, não precisa ficar em casa. Se não fica em casa, sai para a rua. Se sai para a rua, conhece gente. Se conhece gente, entende melhor as pessoas. Se entende melhor as pessoas, torna-se uma pessoa melhor. Se torna-se uma pessoa melhor, melhora a vida de outras pessoas. Se melhora a vida de outras pessoas, faz um mundo melhor. Se faz um mundo melhor, não há guerras. Se não há guerras, há paz. Se há paz, vive tranqüilo. Se vive tranqüilo, é feliz. Se é feliz, pode fazer outros felizes. E se você faz outros felizes, somos todos felizes. Leve guarda-chuva...



quarta-feira, 28 de maio de 2008

Poema Concreto - Thiago de Mello

O que tu tens e queres saber
(porque te dói)
não tem nome.
Só tem (mas vazio)
o lugar que abriu em tua vida
a sua própria falta.

A dor que te dói pelo avesso
perdida nos teus escuros
é como alguém que come não o pão, mas a fome.
Sofres de não saber o que tens e falta
num lugar que nem sabes,
mas que é na tua vida...
Quem sabe é em teu amor...

O que tu tens, não tens.

Esperando Godot ou a Vida Inútil

Para a semana que vem, temos um tema cabeludo para redação: felicidade. Já tivemos uma prévia em aula, quando o professor pediu que cada um desse, em uma única frase, sua visão de felicidade. Depois, cada um escolheu a frase com que mais se identificava e aquela com que menos se identificava.

Por fim, a turma se dividiu em grupos por aproximação de afinidade (em relação à frase) e cada grupo discutiu uma única frase, escolhida por maior número de citações. Ao final, cada grupo apresentou sua visão, fruto da discussão.

O professor Antonio é um provocador, ao estilo de Antonio Abujamra. Faz a turma se puxar. Mesmo os mais preguiçosos, sob seu comando, acabam por pensar.

Antes de escrever minha redação estou lendo "A felicidade, desesperadamente", de André Comte-Sponville. Estou na página 60 de 138. Faz pensar profundamente na eterna insatisfação humana.

Pra quem não sabe, a primeira parte do título deste post refere-se a uma peça de Samuel Beckett. A segunda parte é minha conclusão sobre a peça e, em parte, sobre o livro. A meu ver, Godot é a felicidade. Ele nunca chega, assim como a tão sonhada felicidade, mas é justamente isso que move os personagens, assim como move os homens. Move no decorrer do tempo, no correr dos dias em direção à morte. Esperar, a meu ver, é a única possibilidade concreta. A vida, no fundo, é uma inútil e vazia espera.

Como diz André no livro "felicidade é desejo e só se deseja o que não se tem." Desejo é falta. Portanto, felicidade é falta. Entre outras coisas, André cita no livro uma frase de Woody Allen que diz "como eu seria feliz se fosse feliz!" Como quase tudo que sai daquela cabeça, genial.

Enquanto lia a primeira parte do livro, lembrei a maior parte do tempo de um poema que li há muitos anos, de Thiago de Mello, chamado Poema Concreto. Para que o post não fique longo demais, transcrevo o poema no próximo.