quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pour Elise


Quem gosta de escrever, raramente escreve à-toa e, tampouco, impunemente. Todo texto tem uma história por trás e gera alguma repercussão, boa ou ruim. Escrevi o poema abaixo em 2003 e lembro muito bem o porquê. Eu havia me separado no final de 2002 de uma mulher de quem gostava muito e, por pura comodidade, ao invés de sair às ruas para conhecer alguém, ficava horas vagando na net. Foi assim que conheci "Elise". Uma garota encantadora que escrevia poemas levemente eróticos e de muito bom gosto. Das leituras de nossos blogs passamos aos comentários e destes à troca de mensagens, na época, pelo ICQ e por email. Acabei me apaixonando (que surpresa!) e escrevi o poema para ela. Então ela percebeu o que tinha acontecido e abriu o jogo. Era casada, usava um pseudônimo (Elise, obviamente) para escrever e navegar e morava a milhares de quilômetros de Porto Alegre. Concordamos em terminar nossa pseudo relação. Foi uma das coisas mais tristes que já me aconteceu. Leia o o poema e tente entender como eu me sentia quando "estava" com ela.

Pour Elise

Hoje me deu vontade
de escrever um soneto,
e depois te pedir um beijo,
daqueles de estalar os lábios,
e um abraço dengoso,
daqueles bem apertados,
inteiros e vagarosos,
bem no meio da tarde,
em uma esquina qualquer,
com pessoas paradas em volta,
esperando que acabemos,
esperando que sumamos,
ou, quem sabe, que somemos,
ou que respiremos, ao menos!
para que possam perguntar-nos:
de onde vem esse afeto?
de onde vem tal calor?
que nos deixa as faces coradas
e a respiração bem curtinha,
e as pernas meio moles,
e a cabeça na lua,
e as mãos assanhadas,
enquanto a tarde evapora
e o sol vai indo embora,
e a rua ficando deserta
e só uma coisa é certa:

eu vivo de vontades.

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