terça-feira, 20 de novembro de 2012

Não atirem nas crianças


As imagens e os textos sobre o genocídio praticado por israel contra os palestinos têm-me feito pensar em muitas coisas diferentes. Como hoje no final da tarde, quando eu estava na sacada replantando um galho quebrado de Mirra (ironia?) e me veio à mente uma história que há muito tempo eu não recordava.

Eu passei minha infância numa vila poeirenta de Gravataí, na parada 66, na antiga rua Antonio Carlos. Era uma rua com muitas crianças e todos adoravam brincar de pegar, andar de balanço e jogar bola. Por vários anos a gente teve um terreno baldio à disposição bem ao lado de minha casa. Ali, era nosso "campinho". Um dia, cercaram o terreno e proibiram o acesso. Tudo bem, passamos a jogar bola no meio da rua mesmo.

Mas, isso gerou um grande problema. O seu Darci, que não gostava nem de cachorros, nem de crianças, passou a implicar com nossos jogos que aconteciam quase em frente à casa dele. Seguidamente ele vinha até a cerca e nos xingava. Recebia, evidentemente, vários xingamentos de volta. A rua não era dele, era nossa, era de todos. Pais e mães se indispuseram várias vezes com ele por conta de suas reclamações grosseiras. Na visão tacanha dele, criança tinha que ficar quieta e não sair de dentro do próprio pátio.

Entre xingamentos de um lado e outro, a vida foi passando, até que um dia, aconteceu o inevitável. Uma bola chutada mais forte foi parar exatamente numa janela do seu Darci! O homem virou um demônio. Gritava, ensandecido, chamando-nos de marginais para baixo. Mesmo assim, eu tive a pachorra de ir pedir-lhe a bola de volta. Na minha lógica infantil, ele podia ficar zangado, mas não podia ficar com uma bola que não lhe pertencia. Eu aprendera isso com minha mãe, cada um fica com o que é seu. Foi a gota d'água a transbordar o pote. Ele entrou em casa e voltou dali a pouco, de revólver na mão, dizendo que ia matar a nós e nossos pais. Todos saímos correndo e gritando em direção às nossas casas.

Os adultos acudiram e até hoje me lembro da bronca que minha mãe deu nele. A vila inteira ficou contra ele. Éramos moleques, terríveis, por um lado, mas apenas moleques, não bandidos. Claro que não era certo quebrar a janela dele, mas, atirar em crianças?? Só um sujeito muito desequilibrado poderia pensar nisso, E, certamente, ninguém com bom senso ficaria do lado dele. Ele perdeu a razão no exato momento em que reagiu de maneira desproporcional ao nosso "delito".

É exatamente assim que eu vejo a sandice de israel conta os palestinos. Argumentem o que quiserem, me chamem do que imaginarem, mas eu sou radicalmente contra o ato de israel. Somente homens doentes da cabeça atiram em crianças. E somente imbecis apoiam essa barbárie.

1 Deixe seu comentário::

Anônimo disse...

Wladimir, que bela crônica!
abs
Nazareth