sábado, 12 de julho de 2008

Faça um upgrade nas suas idéias

Deixando de lado o tempo em que eu usava o micro como diversão, com meu querido MSX, da Gradiente, eu comecei a trabalhar com informática há 14 anos. Comecei bem, para a época: um 486 DX4 100, o último modelo de 486 lançado antes de surgir o Pentium. Ele dava conta de todas as tarefas em Word, Excel, Page Maker e Corel Draw e ainda servia para jogos. Quando ouço alguém falando sobre a "lentidão" dos micros antigos logo penso que não é bem assim. Meu micro atual, com uma placa mãe Gigabyte, com placa de vídeo offboard de 128 MB, 1 giga de memória DDR2, leva praticamente o mesmo tempo para processar um arquivo do Corel 12 (já existe a versão 14) que aquele 486 levava para processar um arquivo do Corel 4. Por que então as pessoas acreditam piamente que os micros antigos eram mais lentos? Bem, se colocar um 486 ao lado do meu Sempron, sim, o 486 será mais lento. Mas é assim que se deve compará-los? Por tarefa solicitada fica bem mais fácil: compara-se o tempo de processamento de um arquivo feito por um programa da época (no 486) a um arquivo de um programa atual (no sempron, por exemplo). Os micros ficaram mais rápidos, mas os sistemas operacionais e os aplicativos ficaram mais pesados e precisam de cada vez mais memória e capacidade de processamento.

É claro que, hoje em dia, existem facilidades em relação àquele tempo. Um kit multimídia (cd-rom, placa e caixas de som) era muito caro, não vinha já instalado no micro como hoje em dia, então o nosso não tinha. Quando conheci o DOOM (jogo de tiro em primeira pessoa) o som do jogo era reproduzido no speaker, um alto-falante de 4 cm de diâmetro, semelhante aos que eram usados em radinhos de pilha. Tomei um susto na primeira vez em que ouvi o som do jogo em uma caixa de som. Risos.

Desde o primeiro Pentium surgiram pelo menos mais umas seis gerações de processadores. De uns anos para cá, a indústria descobriu um novo filão muito lucrativo: além de lançar novidades o tempo todo — impossível acompanhar — também tornou incompatível qualquer possibilidade de upgrade simples, ou seja, sem uma troca completa do núcleo principal do computador. Isso significa que se você resolver ou precisar trocar o processador vai ter que trocar a placa mãe e a memória também. Dependendo do caso, se tiver uma placa de vídeo AGP, é uma pena, mas o slot agora é para placas de vídeo PCI Express. E nem pense em vender a placa para tentar diminuir o prejuízo: você pagou, vamos dizer, de 150 a 200 reais pela placa de vídeo? Bem, pode vendê-la por 15 ou 20 reais. Virou sucata em dois anos mais ou menos. Num caso desses aconselho a doação. Sempre é útil para alguém com menos recursos e, no fim, não vai fazer diferença pro seu bolso.

Outro caso interessante é o dos monitores. Não vi ainda nenhum monitor LCD (esses fininhos) com a mesma qualidade de imagem de um CRT (os grandes). No entanto, as pessoas compram porque é mais bonito e porque ocupam menos espaço. Desde quando eu me lembro, monitores nunca foram problema em função de espaço. As mesas de computador sempre previram a sua presença. Alguns argumentam que se tem cada vez menos espaço. Pode ser, mas eu não tenho essa mesma percepção. Acho que não passa de uma boa desculpa que se arranjou para justificar a compra. Eu mesmo tenho um monitor de 17 da Samsung que funciona perfeitamente bem. Não existe o menor motivo que seja para eu comprar um LCD, sem contar que perderia em qualidade de imagem. Só me dói saber que, no dia em que este aqui queimar, vou ter que comprar um LCD pelo simples fato de que os CRT terão desaparecido.

Quando eu ainda trabalhava com informática, um casal de clientes comprou um micro pra seus dois filhos adolescentes. Na época, o valor final ficou em quase 5 mil reais (meados de 2006). E para quê? Para um deles jogar Need for Speed (eu jogo muito bem no meu sempron) e para o outro encher a máquina de vírus navegando em sites pornográficos. Belo investimento! Mas — justiça seja feita — eles usam o Word e a Internet para pesquisa! Ah, bom, sendo assim...

Isso não é muito diferente das mulheres que enchem os armários com roupas e sapatos que talvez nunca sejam usados. Dizem até que é doença. Eu acredito que é falta de um sonoro NÃO na hora de educar as crias. O fato é que as pessoas não se dão conta de uma coisinha simples: as indústrias produzem coisas cada vez menos duráveis e a publicidade induz ao erro do consumo pelo consumo. Ora, devemos consumir unicamente o que necessitamos e não aquilo de que nos convencem que precisamos! A idéia de trocar algo que ainda está funcionando por outro "do momento" é simplesmente estúpida. O dinheiro gasto com tanta bobagem poderia ser gasto em aquisição de cultura e conhecimento, por exemplo.

O vídeo abaixo (dica do Guilherme) explica de forma didática o problema que gera o consumo desmedido. Assista e pense nisso.

3 Deixe seu comentário::

tarciso disse...

Meu virtual amigo Wlad... de fato, o consumismo é uma obsessão idiota pra muita gente, mas como me educaram de forma ligeiramente mão-de-vaca e a vida não foi muito fácil em minha infância, aprendi a dar valor nas coisas e encontrar o encanto daquelas antigas que muito bem costumam funcionar... minhas trocas são as inevitáveis ou as necessárias - porque algumas o são mesmo. Abraços...

Guilherme Tolotti disse...

A propósito, uma citação do Érico Veríssimo, em Solo de Clarineta:
"o objetivo do consumidor não é o de possuir coisas, mas de consumir cada vez mais e mais, a fim de com isso compensar o seu vácuo interior, sua passividade, sua solidão, seu tédio e sua ansiedade."

Odele Souza disse...

Wladimir,
É mesmo impressionante ver como as pessoas acabam sendo levadas pelo consumismo exagerado. Gostei muito de seu post que leva à reflexão dessa atitude tão comum, consumir com exagero, gastar em excesso.
Apesar de concordar com você de que o consumismo é mais comum entre as mulheres que por vezes exageram no número de sapatos nos armários, há homens que também são gastões.

Um abraço e boa semana.