domingo, 12 de dezembro de 2010

John e a banana


John deve ter um dia de vida, no máximo.

Encontrei-o na mesma rua aqui ao lado onde encontrei a Nina, a gatinha pitoca que é a mamãe da família de seis gatinhos que moram comigo. Sim, eu adoro animais e só não tenho mais por que não tenho espaço nem grana disponível.

Mas não animais comprados em lojas. Que bom que tem gente que gosta deles, né? Eu prefiro os animais perdidos, os sem perspectivas. Como John.
Ele estava, curiosamente, na mesma calçada em que Nina estava há três anos atrás. Tão pequenino, tão quietinho que, se um cachorro ou gato não o atacasse, alguém pisaria em cima.
Pelas penas, deve ser um filhote de pardal, macho. Não esboçou grande reação quando fui pegá-lo. Nenhum ninho à vista, nenhuma mamãe pardal por perto. Desisti de comprar pão e voltei com ele pra casa.

Caixinha de papelão forrada com toalha, tampinha de requeijão com água, pedaço de banana, tudo a salvo dos seis gatinhos, claro.
Mas, percebi que ele queria mesmo era um calorzinho. Gostou da minha mão. Quando fui soltá-lo agarrou-se com força a um dedo. Depois, gostou de mexer as asas e treinar um vôo de 15 centímetros de altura. Como eu tinha um cliente vindo trazer um micro tive que deixá-lo sozinho por quase uma hora. Depois, quando voltei, até tentou fugir, mas, quando sentiu o calor da mão, aquietou-se novamente e ficou curtindo. Fechou os olhinhos e cochilou na segurança que o calor lhe transmitia.
Tomou água, mas não quis saber da banana. Preferiu migalhas de pão. Significativo.

O nome me veio por que estava com uma música do Belchior na cabeça naquele momento. Justo na parte em que dizia: "John, eu não esqueço, a felicidade é uma arma quente..."

O encontro se deu à tarde. Coloquei-o para dormir, bem aconchegado, quase 11 da noite. Ele precisa de tempo para aprender a voar. Não está em gaiola. Odeio gaiolas. Quando estiver pronto, vai embora, com certeza. Não tem sentido ter asas e não sair por aí voando. Nesse momento, está seguro e tranquilo. Deu sorte de me encontrar.

Mais sorte dei eu.

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tarciso disse...

são estas coisas pequeninas que fazem a vida virar poesia...