sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dezoito mil, duzentos e cinquenta dias


O título do post não oferece uma conta exata, se forem considerados anos bissextos. Mas, no fim, não creio que isso faça uma grande diferença. Viver tanto tempo, cinquenta anos, nos faz perder um pouco essa noção de dias passando e acumulando-se nas folhas de um calendário. Afinal, não guardamos os calendários velhos, guardamos?

Será que alguma coisa realmente muda quando vivemos tanto tempo? Creio que sim, mas o que muda são detalhes. A essência de uma pessoa, seja ela o que for, não se altera ao longo da vida.

Se olhar bem para trás, me impressiona o fato de que continuo sendo, essencialmente, o mesmo menino que esfolava os joelhos no areião das ruas de chão batido da vila em Gravataí onde me criei.

Aquele menino nunca suportou ver um animal agredido e chegou ao ponto de fazer um estilingue apenas para alvejar os que insistiam em matar passarinhos.

Aquele menino não acreditava que assassinar um animal para alimentar-se dele fosse algo correto.

Aquele menino saía no tapa com qualquer um que ultrapassasse o limite da cordialidade.

Aquele menino nunca acreditou no deus todo-poderoso com o qual sua mãe o ameaçava a cada briga, porque nunca viu tal deus fazer qualquer coisa por qualquer um que precisasse.

Aquele menino sempre tratou como iguais as meninas com quem convivia.

Aquele menino nunca sentiu-se no direito de humilhar uma pessoa humilde.

Aquele menino era o único na vila que se dava bem com o garoto homossexual da turma.

Aquele menino já se apaixonava com facilidade aos 7 anos de idade, quando não podia "viver" um dia sem ver a professora Maria. Depois, aos 9 anos, "morreu" de amores pela menina Carmen, sua vizinha. E descobriu o quanto podia durar um amor platônico com sua colega Dora, dos 11 aos 13 anos.
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Depois de tanto tempo passado o que mudou mesmo foi minha cara. Um susto no espelho a cada dia e não apenas pela minha pouca beleza. Risos. Melhor mesmo seria dizer do grande espanto de não ver por fora o menino que me sinto por dentro.

Será essa a diferença entre envelhecer e amadurecer?

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tarciso disse...

Wladi, aquele menino em seu encanto/desencanto não se pode deixar morrer - não por enquanto e enquanto houver motivos pra viver. E quantos há, ao menos os dezoito mil e duzentos e cinquenta - suponho - e então proponho um brinde a todos e a cada um deles - por você!!!